quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Bono Vox em Teerã Por Reinaldo Azevedo

PRIMEIRA LEITURA

Já não estou só. Marcos Augusto Gonçalves, editor da Ilustrada, também deu um pau em Bono Vox (clique aqui). Já somos dois. Falei com ele nesta terça. Vê o U2 como “o Maomé do rock”. Ou seja, vem rebelião por aí. Eu o alertei para o risco de ser perseguido. A exemplo do islamismo, o “U2ismo” também é pacífico, mas só sob certas circunstâncias que são de sua escolha. Ou param de erguer as mãos, cantando loas à paz, e passam imediatamente para a guerra. O mínimo que saem depredando é a inteligência.

É proibido até mesmo desenhar o Profeta do politicamente correto. Vi trechos do show. Velhote, Bono fez uma dança meio libidinosa com uma mulher bem mais jovem e depois pendurou um crucifixo no microfone. Tenho estômago forte. Tomo Omeprazol todo dia. Em dois momentos, houve vaias no show de segunda: quando o homem falou o nome “Argentina” e quando o Apedeuta apareceu no telão. A imprensa, até agora, ignorou o repúdio a Lula. Bono agradeceu a hospitalidade do presidente. Transformou o Brasil numa fazendola do petista. Sabe das coisas esse coroa.

Adiante. Bono é um idiota político. Talvez seja a política possível para as massas — não “massas” quaisquer, mas as de classe média, que sabem mais ou menos das coisas. O roqueiro faz o complexo parecer fácil e compreensível. Lula, o seu queridinho, conquista seus melhores índices com os caraminguás que dá aos miseráveis. Bono verte (em inglês!) o populista terceiro-mundista para a classe média. Como acaba de dizer uma repórter do Jornal Nacional, ele oferece “emoção com política”. O mundo é bárbaro.

O roqueiro pôs uma faixa na cabeça. Havia o símbolo do cristianismo, a estrela de Davi, do judaísmo, e o crescente, símbolo do islamismo. Oh, grande coragem a deste senhor, não é mesmo? Que lindo o seu ecumenismo pacifista! Ao pôr os três símbolos na testa em nome da paz, ele os igualou, culturalmente, aos olhos do Ocidente. Muito bem! Agora espero que ele vá dar um show em Gaza, sob o governo do Hamas, ou, sei lá, em Teerã e exiba na testa a cruz e a estrela de Davi.

A paz, como sabe Bono, não pode conhecer fronteiras. O chato é que os aiatolás proibiram o rock desde a revolução islâmica. O gorducho rebolante pode dizer no Ocidente que o islamismo, o judaísmo e o cristianismo querem a paz. Tem, então, a obrigação moral de fazer o mesmo no Oriente — e nem precisa ser o “nosso Oriente”, aquele que Edward Said dizia ser distorcido. Que seja lá o deles, o reino de justiça sem fim. Conto com Bono para subir num palco num país islâmico e defender o direito dos judeus à vida, à paz e a um território. Se ele não conseguir, que enfie aquela faixa na lata do lixo.

Eu nunca tinha ouvido U2 e intuí que Bono era um cretino. É o que se entende do meu primeiro texto. Agora eu já ouvi e vi Bono Vox. Já sei distingui-lo de uma fatia de presunto. E ele, vejam vocês, é mesmo um cretino. Os e-mails de protesto podem ser mandados também para Marcos Augusto.

[reinaldo@primeiraleitura.com.br]
Publicado em 21 de fevereiro de 2006.