Armados com facões e paus, jovens atacaram muçulmanos na cidade de Enugu, região sudeste da Nigéria. Um motociclista foi espancado até a morte. Em Kotangora, ao norte, uma multidão de muçulmanos ateou fogo a nove igrejas, saqueou lojas e matou três pessoas.
Esses episódios são apenas os mais recentes de um confronto entre muçulmanos e cristãos que deixou mais de 150 mortos na semana passada. As atrocidades ocorreram na esteira de protestos contra as charges que retrataram o profeta Muhammad, mas refletem a anomia que domina grande parte do continente.
No Sudão, segue em curso um genocídio que já produziu 70 mil mortos e 1,8 milhão de refugiados. Uma milícia de sudaneses arabizados, a Janjaweed, com o apoio do governo, promove uma campanha de limpeza étnica contra negros não-árabes.
Na República Democrática do Congo, cerca de 38 mil morrem todos os meses em decorrência indireta da guerra civil. De 1998 a 2004, estima-se que tenham morrido 4 milhões de pessoas -se o conflito não os matou diretamente, fê-lo ao dilapidar a infra-estrutura de saúde.
As fugas dessas zonas de guerra resultam em campos com milhões de refugiados. Os planos mais razoáveis para o continente partiram do premiê britânico Tony Blair. Ele propôs cancelar toda a dívida externa dos países miseráveis da região e dobrar a ajuda internacional destinada ao continente, atingindo a marca de US$ 50 bilhões por ano na próxima década. Como de costume, a iniciativa esbarrou na negativa dos EUA.
Ajuda mais efetiva, porém, dariam as nações industrializadas se eliminassem os subsídios agrícolas e as barreiras à importação de alimentos. Se tal passo não extinguiria as raízes profundas da tragédia africana, seria ao menos uma chance de o mundo rico demonstrar a existência de um espírito humanitário por trás dos dogmas liberais, arduamente defendidos na hora de abrir mercados para as suas próprias empresas.