quarta-feira, janeiro 25, 2006

Luís Nassif - O câmbio e a moeda única




Folha de S. Paulo
25/1/2006

Afinal, caminha-se para um mundo com poucas moedas ou não? A tese da dolarização da moeda foi muito forte quando o modelo Cavallo de conversibilidade fazia água na Argentina. Agora, se tem um fato óbvio -as ameaças constantes à estabilização cambial, em países de moedas voláteis- e a volta da proposta da dolarização.
Professor de Universidade de São Paulo, Carlos de Brito lembra um artigo pouco lido de Lord Keynes -"The economic consequences of mr. Churchill"- sobre a tentativa infeliz da Grã-Bretanha de voltar ao padrão-ouro antes da Primeira Guerra Mundial. O preço de manter o câmbio atrelado a uma regra fixa qualquer é o ajuste sempre pelo lado "real" da economia. Em situações extremas, isso geraria depressão econômica.
Homem de mercado, que já circulou por muitos países, Igor Cornelsen tem outra visão. Quem ganha e quem perde com a adoção de uma moeda única? Para Igor, ganham os que, no momento da partida, saem com um câmbio competitivo; perdem os que saem com um câmbio apreciado.
Cornelsen acompanhou a experiência panamenha, de adoção do dólar. Constatou que o Panamá se tornou uma pequena economia muito estável, cercada por economias muito voláteis e instáveis e que não atraíam o desenvolvimento. Nos últimos anos do século 20, o desempenho do Panamá foi melhor que o da América Central, diz ele. O mesmo ocorre com as economias do Caribe que usam o dólar. O Equador teve o seu período menos turbulento e de maior crescimento quando passou a usar o dólar.
Mas o melhor laboratório é a União Européia. A Irlanda adotou o euro com sua moeda bastante competitiva (desvalorizada) no momento da conversão. Teve um rápido desenvolvimento. A Alemanha adotou o euro com uma moeda muito valorizada. Amargou anos de recessão. O mesmo aconteceu com a Alemanha Oriental, que aderiu ao marco com uma cotação 1 para 1 na reunificação, um desastre econômico.
Sua observação pessoal é que adotar uma moeda crível faz bem para uma economia pequena e subdesenvolvida desde que a conversão ocorra numa taxa de câmbio que possa atrair investimento e capitais para o desenvolvimento.
Creio que o futuro nos reserva uma e só moeda global, onde a manipulação da taxa de câmbio para se desenvolver economicamente nações mais atrasadas, exportando para as nações centrais, não mais vai ser possível: a China vai esgotar essa política.
Até chegarmos lá, conclui ele, os espertos vão crescer desvalorizando o câmbio, os trouxas vão permitir a sua moeda se valorizar para baixar a inflação e vão colher estagnação.

PSDB
A rigor, não existe um projeto econômico oficial do PSDB. No final dos anos 80, há um pensamento monetário-ortodoxo que migra da FGV-RJ para a PUC-RJ; um estruturalista que se consolida no Instituto de Economia da Unicamp. No meio, há um conjunto de economistas referenciais, dos quais os mais importantes são Delfim Netto e José Serra.
Depois, com intervenções importantes, Luiz Carlos Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano, os irmãos Mendonça de Barros, Antonio Barros de Castro e a escola industrialista da UFRJ.