AVANÇOS EXTERNOS
A valorização cambial, a despeito de seus efeitos deletérios sobre a competitividade do setor produtivo, permitiu a compra de um volume considerável de reservas internacionais pelo Tesouro e pelo Banco Central e ajudou o país a reduzir o endividamento externo. A dívida externa total caiu de US$ 210,7 bilhões (dezembro de 2002) para US$ 183,1 bilhões (setembro de 2005).
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) expresso em dólar, ela passou de 46% para 25% no mesmo período, segundo o BC. Em proporção às exportações, a dívida externa foi de 3,5% para 1,6%. São bons resultados, que reduzem a vulnerabilidade da economia brasileira aos movimentos dos mercados internacionais de capitais e tornam menos problemáticos os obstáculos externos ao crescimento econômico.
Entre novembro de 2004 e novembro de 2005, as reservas internacionais brasileiras foram ampliadas em US$ 26,6 bilhões. Grande parte desse montante foi adquirido em operações de compra no mercado cambial doméstico. As aquisições permitiram reduzir o endividamento externo do setor público, por meio da antecipação de pagamentos de US$ 2,6 bilhões com o Clube de Paris e de US$ 15,6 bilhões com o FMI.
Assim, a dívida externa do governo, de US$ 119,8 bilhões em dezembro de 2003, caiu para cerca de US$ 84 bilhões ao fim de 2005. Além disso, o Tesouro praticamente eliminou o estoque de dívida pública interna indexado à variação cambial.
O setor privado também adotou estratégia semelhante e diminuiu seu endividamento, que passou de US$ 100,3 bilhões (em dezembro de 2002) para US$ 79 bilhões no final do ano.
Esses movimentos provocaram uma queda do risco-país, calculado pelo banco norte-americano JP Morgan, o que representa um alívio importante no custo das operações de crédito feitas pelos brasileiros no mercado internacional.
O fato de que as autoridades econômicas tenham aproveitado a oportunidade para reduzir o estoque da dívida pode facilitar o encaminhamento de outras questões que vêm criando percalços para o crescimento do PIB, como a elevadíssima taxa de juros e o pífio patamar dos investimentos públicos em infra-estrutura econômica e social.
Em média, a taxa Selic manteve-se acima de 15% ao ano em termos reais desde 1995, o que tem alimentado a dívida pública e exigido a realização de superávits fiscais primários crescentes, à custa dos investimentos públicos em estradas, portos, energia e saneamento.
Para desmontar essa armadilha, as autoridades econômicas precisariam ter em vista juros reais (descontada a projeção de inflação) entre 6% e 8% ao ano, o que seria compatível com com o atual nível do risco-país.
Não obstante, o mercado financeiro continua projetando juros reais em torno de 11% no final de 2006, um patamar ainda muito alto para estimular um crescimento mais vigoroso e sustentado da economia.