sábado, janeiro 28, 2006

DORA KRAMER DORA KRAMER: Serra cala, mas não consente

OESP

Em público prefeito faz que não ouve. No particular reclama e rebate críticas de Alckmin

Oficialmente não existe briga entre os pré-candidatos do PSDB à Presidência da República, José Serra e Geraldo Alckmin; para todos os efeitos (externos, claro) está tudo bem e caminhando com muita civilidade entre os dois.

Mas nos chamados bastidores a coisa pega fogo. Talvez pela premência de se firmar como opção tucana, o governador faz a guerra com mais desassombro: seus aliados, e ele próprio, têm pronto na ponta da língua sempre um rol de motivos pelos quais Serra não seria a escolha mais conveniente.

Alckmin e "alckmistas" chegam a duvidar de que Serra ouse deixar a Prefeitura de São Paulo para enfrentar o risco de uma disputa com um Luiz Inácio da Silva em condições competitivas.

O prefeito, por sua vez, tem guardado mais discrição.Em público, diga-se. No particular, entre seus partidários, não deixa de manifestar explícita irritação com a existência do que denomina uma central de "rumores impeditivos" da candidatura dele.

O pessoal de Geraldo Alckmin, na opinião dos serristas, e do próprio, tem sido implacável na disseminação das razões pelas quais o adversário quase que jogaria o PSDB numa aventura ao tentar concorrer com Lula.

Este grupo também dispõe de um cardápio de motivos que fariam de Alckmin não o pior candidato, mas o pior presidente mesmo.

Logo de início definem o governador de São Paulo como "megacentralizador" e administrativamente "travado".

Alegam que o mito do bom administrador é isso, um mito. Atrasou obras - do metrô e do Rodoanel -, só fez continuar os planos concebidos pelo falecido governador Mário Covas e hoje tem problemas para gastar mais de R$ 5 bilhões que tem em caixa.

Como presidente, seria um adepto da política econômica ortodoxa.

E o que aborrece mesmo os adversários é que os defeitos de Alckmin - "falta de visão nacional, lentidão administrativa" - passam praticamente em branco, porque Alckmin não recebe críticas.

Ao contrário, em São Paulo conta com uma avaliação estupenda. Isso reconhecido até por aquela parcela do cardinalato tucano que não esconde a preferência por Serra.

A ausência de críticas ao governador, argumentam os serristas, cria um desequilíbrio de impressão pública entre os dois, Acham que, com isso, Alckmin dá munição ao inimigo eleitoral e cria um distanciamento futuro difícil de ser recuperado.

Entre os "rumores impeditivos" alegados pelo grupo de Serra, os partidários de Alckmin dão peso excessivo ao compromisso do prefeito de não deixar o cargo.

A respeito disso, os queixosos serristas fazem um raciocínio hipotético em retrospectiva: imaginando-se que Ulysses Guimarães fosse mineiro e, na condição de pré-candidato à Presidência da República no colégio eleitoral de 1985, houvesse trabalhado contra a saída de Tancredo Neves do governo de Minas, talvez a história fosse outra e Paulo Maluf tivesse vencido a disputa.

Sem compromisso

Anthony Garotinho reclama que a direção do PMDB o trata como um estranho no ninho dentro do partido; não defende sua candidatura, faz pouco de seus índices nas pesquisas, o deixa sempre em segundo plano no rol das preferências eleitorais. A recíproca é verdadeira.

A direção do PMDB alega que Garotinho tem atuação personalista, não confere reverência às instâncias do partido, não se submete aos rituais regionais partidários quando visita os Estados, não respeita os hábitos e tradições pemedebistas. Age com independência exagerada.

Incontrolável

Quando deixou o PSB e entrou para o PMDB, Garotinho imaginou que chegara ao paraíso: partido grande, estruturado no País todo e, melhor de tudo, sem dono nem unidade suficiente para manter posições conjuntas.

Seria, acreditou, a legenda ideal para levá-lo à Presidência da República, pois reinaria na confusão.

O mesmo tipo de raciocínio parece que faz o governo no pressuposto de que ao fim e ao cabo o PMDB não terá candidato a presidente e Lula poderá contar com um bom naco daquilo que encanta Garotinho: máquina e estrutura partidária forte nos Estados.

Até hoje, a despeito de várias tentativas nestes três últimos anos, não conseguiu o controle pretendido.

Mais de um

Quinta-feira, quem bateu os olhos na lista de visitantes do Palácio do Planalto viveu momentos de dúvida.

Estava lá o registro de entrada de Delúbio. Pergunta daqui e dali, horas depois ficou esclarecido: tratava-se de Delúbio Gomes Pereira da Silva, do Ministério da Previdência Social.

O nome deve pesar ao funcionário, pois, instado a comentar a coincidência e seus efeitos, optou pelo silêncio e o, na medida do possível, anonimato.

dkramer@estadao.com.br