DIÁRIO DE DAVOS
A derrota é pesada até para os ricos e famosos. Em anos anteriores, George Soros, o megainvestidor (ou megaespeculador), mal podia caminhar no corredores do Centro de Congressos de Davos, sempre procurado pelos participantes e jornalistas.
Este ano, teve tanta tranqüilidade que mesmo sua habitual entrevista coletiva, sábado, ficou com a (pequena) sala a ela reservada quase vazia.
Soros lançou, de todo modo, o único raio no céu azul das previsões feitas no Fórum: disse que há riscos políticos sérios, decorrentes do que considera "declínio do poder e da influência dos Estados Unidos no mundo".
Nesse suposto vácuo, entrariam o que Soros chamou de "cevadores de problemas". Primeiro na lista: o Irã e seu programa nuclear, que, sempre segundo o investidor, goza internamente de "grande popularidade".
Perguntei a Soros se suas avaliações não estavam envenenadas pelo fato de ter gasto milhões de dólares na campanha eleitoral norte-americana, para tentar evitar a reeleição de George W. Bush, que, no entanto, ganhou. "Minha resposta simples é sim."
Enviesada pelo despeito ou não, difícil discordar dele quando reclama cooperação internacional, lamenta que os Estados Unidos não trabalhem nesse sentido e diz que o aquecimento global e a proliferação nuclear são "um perigo para nossa civilização".
ABRAÇO DE CHÁVEZ
Até ao falar de América Latina, Soros olha para as carências da gestão Bush. Elogia a eleição de Evo Morales na Bolívia, por ser indígena, mas acrescenta: "Infelizmente, será abraçado por Hugo Chávez, não por Washington". E diz que uma "frente anti-americana está surgindo na América Latina".
LOBBY ARMADO
Aproveitei a visita para ler o jornalista David Morton dizer que a vitória no plebiscito da proibição de armas no Brasil se deveu ao "empréstimo" de "argumentos e táticas da NRA". É a National Rifle Association, "talvez o mais poderoso lobby político da América".
O SEDUTOR CLINTON
Bill Clinton pode ser ex, mas continua um sedutor. Prendeu a atenção do público que ouviu seu diálogo, no sábado, com Klaus Schwab, o presidente e criador do Fórum Econômico Mundial.
Cativa não apenas pelas análises bastante serenas e informadas, mas pelas "boutades". Exemplo: ao falar sobre o Irã, disse que o atual presidente fez campanha pedindo aos eleitores que votassem nele que ele "assinaria os cheques".
Emendou rápido sem nem mesmo sorrir: "Poderia ser candidato a prefeito na América".
Não só na América do Norte, Bill.