FOLHA
BRASÍLIA - O senso comum é que 2005 foi muito ruim. Condenado a viver em Brasília e vendo de perto o que se passou, arrisco um palpite diferente neste último dia de dezembro: o ano foi de médio para bom. Bom, é claro, não quer dizer perfeito. A economia poderia ter crescido mais. A distribuição de renda é africana. Os impostos, estratosféricos. O juro está além do suportável. Só dois deputados foram cassados (Roberto Jefferson e José Dirceu), quando uns 50 poderiam ter ido para o espaço. O São Paulo poderia ter sido campeão brasileiro de futebol (só ganhou o Paulista, a Libertadores da América e o Mundial de Clubes da Fifa). Fora as ressalvas do parágrafo anterior, é necessário registrar que o PT conseguiu chegar ao terceiro ano no comando do país sem abrir mão da austeridade fiscal. A inflação está menor. O Brasil terá em breve sua quinta eleição presidencial direta seguida pós-ditadura militar. Em 2006, muita gente discute se o juro cai para 16%, 14% ou 12%, mas ninguém nem ousa imaginar que possa ser cancelada a eleição marcada para o primeiro domingo de outubro, como manda a Constituição. A rigor, em 2006, será a primeira eleição presidencial desde o fim da ditadura com a exata mesma regra do pleito anterior. Em 1989 o mandato era de cinco anos. Em 1994, caiu para quatro anos, sem reeleição. Em 1998, introduziu-se a reeleição. Em 2002, veio a verticalização. É verdade que às vezes dá a impressão de que os eleitores custam a aprender. É só impressão. Com muita rapidez, testaram de tudo. Escolheram algo, vá lá, diferente em 1989. Votaram "conservador" em 1994 e 1998. Provaram o PT em 2002. Democracia é assim. Cheia de defeitos, mas não existe sistema melhor. Neste 2005, a democracia brasileira amadureceu. Até porque sobreviveu. No caso do Brasil, já é muito.