FOLHA
BRASÍLIA - Documentos secretos foram enviados na semana passada para o Arquivo Nacional. Passam a ser públicos. O episódio é emblemático. Serve à perfeição para mostrar como funciona o governo reformista conservador de Lula.
Ao anunciar o despacho dos documentos, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) quase chorou. Aparentava emoção. "Este é um momento importante da redemocratização. Sou fruto desse momento", disse ela, que foi presa na ditadura militar.
Tudo bem, bonito, exceto a liberação de documentos ter sido apenas parcial. A remessa só se referia a papéis do Serviço Nacional de Informações (SNI), do Conselho de Segurança Nacional (CSN) e da Comissão Geral de Investigações (CGI).
Sobre os que ficaram de fora, a ministra respondeu estar aberta a sugestões sobre onde mais poderiam ser encontrados arquivos secretos.
Ao fazer tal declaração, Dilma Rousseff transferiu "para a sociedade a responsabilidade pela localização dos acervos militares, devendo qualquer do povo informá-la tão logo encontre (pelas ruas?) um desses acervos", diz Carlos Fico, professor de história da UFRJ e um estudioso de arquivos da ditadura militar.
"Por que acervos do CIE (Centro de Informações do Exército), Cenimar (Centro de Informações da Marinha) e Cisa (Centro de Informações da Aeronáutica), temíveis órgãos de segurança e informação da época, não são liberados?", pergunta Fico.
É evidente que só interessava a Lula dar alguma satisfação pública a essa delicada área de arquivos da ditadura. Ao mesmo tempo, procurou não abrir com militares outra área de atrito. Basta o "mensalão".
No meio dessa história, fica uma indagação. O quase choro de Dilma Rousseff se deu por ingenuidade (a ministra acreditava no que fazia) ou sua atuação só foi mais um caso de transmutação política ao chegar ao poder? Pode ser também, como se sabe, um pouco das duas coisas.