sexta-feira, dezembro 23, 2005

EDITORIAL DA FOLHA

EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA

Os números divulgados no início da semana pela Fuvest frustram expectativas com respeito à democratização do acesso às universidades. A proporção de alunos de escolas públicas aprovados para a segunda fase do vestibular da instituição, responsável pela seleção dos calouros da USP, caiu 9,48% em relação ao exame de 2004. Em face do aumento de 19,24% nos inscritos vindos da rede pública, a queda mostra-se especialmente expressiva.
A reação de representantes dos chamados "movimentos sociais" foi imediata. Manifestações em favor da reserva de vagas para alunos egressos do ensino público e em defesa de um plano concreto de inclusão social por parte da USP se fizeram ouvir tão logo as cifras vieram a público.
Mais uma vez, a resposta mira o alvo errado ao insistir na reivindicação de cotas e não na exigência de melhoria do ensino público -a questão, sem dúvida, fundamental. Isso não significa que devam ser abandonados os esforços para estimular o ingresso de estudantes das escolas públicas no ensino superior.
Uma boa iniciativa nesse sentido é a parceria do Ministério da Educação (MEC) com a USP para implementar um programa de reforço escolar com vistas a premiar os alunos mais promissores da rede pública, os quais teriam direito a atendimento e aulas extras. Seria desejável que o MEC procurasse estender a proposta a outras universidades públicas.
Nada, porém, nesse terreno é mais urgente -e democrático- do que o governo investir no aprimoramento do ensino público básico. Por mais que se queiram criar mecanismos "democráticos" de acesso às universidades, a vocação dessas instituições é acolher a elite intelectual do país. Já uma formação básica de qualidade é, em princípio, universalizável e deve, por essa e por outras razões, ser tratada como prioridade.