quarta-feira, dezembro 28, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

FRAUDE CIENTÍFICA
No que já se considera a maior fraude científica dos últimos tempos, os trabalhos do pesquisador sul-coreano Woo Suk Hwang no campo da clonagem humana estão sendo investigados. Ainda não se conhece a extensão das falsificações, mas é fato que elas existiram, evidenciando falhas no sistema que deveria assegurar a confiabilidade dos artigos publicados nas principais revistas científicas internacionais.
Sabe-se, por exemplo, que, das 11 linhagens de células-tronco derivadas de clones de pacientes que Hwang e seus colaboradores anunciaram neste ano, pelo menos nove eram falsas. Muito provavelmente as outras duas também. Até o famoso "paper" de 2004, no qual o cientista sul-coreano relatou a obtenção de células-tronco a partir de um embrião gerado pela técnica de transferência nuclear, a mesma que criou a ovelha Dolly, está sendo investigado.
Trata-se de um golpe no incipiente campo da pesquisa com clonagem terapêutica (aquela com vistas à obtenção de células-tronco embrionárias específicas para cada paciente). Se todas as realizações de Hwang se revelarem uma fraude, teremos voltado praticamente à estaca zero. Embora a produção de clones de alguns mamíferos já faça parte da rotina de laboratórios, a factibilidade da clonagem humana e a subseqüente derivação de células-tronco ainda estariam por ser demonstradas.
Em termos objetivos, o caso não altera o potencial das células-tronco para curar doenças e estudar moléstias. Elas continuam sendo uma grande esperança da medicina. Mas, no que concerne à imagem desse tipo de pesquisa, o efeito das falsificações pode ser desastroso.
Experiências com a destruição de embriões que sobram de clínicas de fertilidade já são por si altamente polêmicas. Tudo o que contribua para abalar a credibilidade e a ética dos cientistas que se debruçam sobre essas questões tende a reverter em maior oposição a esse necessário gênero de investigação.