quinta-feira, dezembro 22, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

MAIS UMA "PIZZA"
Uma afronta à opinião publica é a expressão mais gentil disponível para qualificar a absolvição do deputado estadual cearense José Nobre Guimarães (PT) da acusação de quebra do decoro parlamentar. Guimarães, que é irmão do ex-presidente do PT José Genoino, escapou da cassação de seu mandato com um placar de 23 votos contra 16.
O deputado ganhou notoriedade nacional em julho, depois que seu assessor José Adalberto Vieira da Silva foi preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, portando R$ 200 mil numa mala e US$ 100 mil na cueca. A peça íntima recheada de dólares tornou-se o emblema mais popular do escândalo de financiamento ilegal e de corrupção envolvendo setores do PT e do governo federal.
Não era, entretanto, por esses fatos que Guimarães respondia. O que motivou o pedido de cassação foi a denúncia de que o deputado recebera R$ 250 mil de uma das contas do publicitário Marcos Valério Fernandes. Guimarães admite ter recebido o dinheiro de origem ilícita, mas, a exemplo de outros parlamentares acusados, procura defender-se afirmando que não utilizou os recursos em benefício próprio. Por essa lógica abstrusa, roubar torna-se lícito, desde que o fruto do crime não reverta em prol do ladrão.
A absolvição de Guimarães não é a primeira de um réu confesso. Ela se segue à do deputado federal Romeu Queiroz (PTB-MG), ocorrida na semana passada.
São fatos a reforçar as notícias de que os partidos políticos envolvidos nesses esquemas fraudulentos (praticamente todos) articularam uma grande ação entre amigos para minimizar suas perdas -aquilo que popularmente se chama de "pizza".