quinta-feira, dezembro 29, 2005

CLÓVIS ROSSI O risco-empulhação

FOLHA

SÃO PAULO- José Paulo Kupfer, consultor editorial da revista "Foco", resgata, no último número de novembro, mais uma empulhação do cenário econômico -tratada, no entanto, como palavra divina. Refiro-me ao tal de risco-país.
Kupfer lembra que o recorde de baixa do "risco Brasil" se deu justamente no momento em que as previsões para o resultado de 2005 recuaram "para algo em torno de 2,5% -e não mais os 3% ou mesmo os 3,5% anteriores".
Uma economia que, no terceiro trimestre, andou para trás, está fragilizada por definição. Logo, o risco que ela representa deveria ser maior, no máximo igual, jamais menor, certo? Errado, porque o "risco-país é apenas uma medida de referência de solvência financeira, não pretendendo servir como indicador de confiança dos investidores numa dada economia, diferentemente do que querem fazer passar os ideólogos oficiais de plantão", ensina Kupfer.
Ou, posto de outra forma, o "risco-país" mede apenas o risco que os credores de um dado país acham que correm de tomar um calote. Não mede o risco que o próprio país corre com a adoção da política "x" ou "y".
No entanto o índice é freqüentemente esgrimido, quando cai, como sinal de que o mundo está satisfeito com a política do governo de turno. Chega-se até à contradição de o governo do PT citar freqüentemente como um de seus êxitos a redução do risco-país, que só subiu, em 2002, porque os mercados temiam a vitória do PT, vitória que, sempre segundo a marquetagem, representou a derrota do medo pela esperança.
Agora, vê-se que o medo foi de fato vencido, mas não pela esperança. Foi vencido pela certeza dos mercados de que o governo que tanto temiam é servil o bastante para continuar a transferir fabulosas quantias aos credores, ao insaciável mercado, aconteça o que acontecer com o desenvolvimento do país.
Serão R$ 160 bilhões neste ano -ou 8,2% de tudo o que o país produz.


@ - crossi@uol.com.br