domingo, dezembro 25, 2005

AUGUSTO NUNES Nunca se viu nada parecido

JB

A crise política iniciada em junho dominou de tal forma o noticiário jornalístico que parece prestes a completar o primeiro aniversário. É compreensível. O país nunca viu nada parecido com a seqüência de abjeções descobertas naquele que será lembrado como o ''ano do mensalão''. Vários atores do drama têm vaga garantida na História Universal da Infâmia. Mas já nos primeiros meses foram emitidos sinais de que 2005 seria estranho, surpreendente, singular.

Ainda em janeiro, o publicitário Duda Mendonça, marqueteiro-mor da República e louco por briga de galo, foi preso pela Polícia Federal numa rinha no Rio. Saiu da cadeia na manhã seguinte. Ainda não acabou o desterro dos policiais que ousaram prender o amigo do rei. Hoje Duda nem conversa com Lula. O presidente, que continuou a divertir-se com viagens à fantasia, não acha o marqueteiro tão criativo desde agosto. Mudou de idéia quando Duda resolver revelar a uma das CPIs parte do muito que sabe.

Em março, oficiais do Exército foram remetidos ao Rio para intervir num setor ameaçado de morte por falta de dinheiro e competência. Segurança pública? Não: favelas conflagradas podem esperar. Eram oficiais-médicos deslocados para enfrentar as tropas de ineptos que lutam para destruir o sistema de saúde, monitorado com criminoso descaso por autoridades federais, estaduais e municipais. Em contrapartida, o MST esbanjava saúde: inaugurou em março uma escola nacional para diplomar invasores de terras.

As explosões deflagradas em junho reservaram o espaço nobre do noticiário para farsantes envolvidos em pilantragens. Os escândalos provocaram fenômenos extraordinários. O durão José Dirceu, por exemplo, chorou. A renúncia forçada abalou a crença de Severino Cavalcanti em Nossa Senhora Aparecida. Reduziu a fato menor a prisão de Paulo Maluf, que só deixou a cadeia porque no peito de ministro do Supremo também bate um coração. Visivelmente boa foi só uma revelação: Diana Buani, a ''musa do mensalinho''.