FSP
Teve marciano no pedaço no seminário "Industrialização, Desindustrialização e Desenvolvimento", promovido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) na segunda-feira passada, em São Paulo. Era o cadáver da economia brasileira sendo dissecado pelos especialistas estrangeiros e brasileiros.
Da Universidade de Cambridge, o chileno Gabriel Palma se espantava: "Como nossos bancos centrais podem falar em equilíbrio macroeconômico com desemprego e câmbio apreciado aqui e no Chile? Com a taxa de juros do BC e o capital de giro a 60% ao ano, existe equilíbrio macroeconômico?".
As excentricidades da economia da jabuticaba não ficaram nisso. Alan Greenspan utilizou toda arte e sabedoria para praticar o minimalismo nos juros. Aumentava as taxas em 0,25 ponto percentual e convencia o mercado de que era uma bomba atômica. Conseguiu a eficácia absoluta de mover o mercado a poder de franzir as sobrancelhas. Aqui, praticou-se o "machomonetarismo" -como Palma definiu-, com Gustavo Franco enfrentando a primeira volatilidade ao aumentar em 20 pontos percentuais os juros. Depois disso, matou qualquer possibilidade de induzir o mercado com movimentos pequenos. Deixou a economia refém dessa loucura.
Entre palestrantes e debatedores, houve divisão entre uma visão pessimista e outra otimista da economia. A pessimista identificou claramente sinais de uma "desindustrialização precoce" da economia. Em todo processo de amadurecimento industrial, há uma tendência de gradativamente os empregos e a produção migrarem para o setor de serviços. No caso brasileiro, ocorreu antes, por conta da crise, não do progresso.
Como definir modelos de política industrial para reverter o processo? Principal industrialista brasileiro, Antonio Barros de Castro tem uma visão otimista da economia. Acha que o aparato industrial brasileiro foi preservado com a abertura. Antes, as empresas eram definidas por setores, produtos e escalas. Hoje em dia, são uma coleção de ativos tangíveis e intangíveis com capacitação diferenciada. Por isso, políticas industriais exigem investimento em inovação, na economia do conhecimento. Castro julga que a maneira como a indústria nacional reage a qualquer impulso demonstra um potencial de crescimento reprimido. Essa visão otimista do tecido industrial não foi compartilhada por grande parte dos demais conferencistas, escudados na enorme queda do emprego industrial.
O chileno Mario Cimoli (Cepal) é outro que aposta firmemente na tecnologia e na inovação como fatores de desenvolvimento. Uma política industrial contemporânea passa por tarifas, acordos comerciais, política tecnológica, taxas de juros.
O importante, como apontou Richard Kozul-Wright (Unctad), é que não existem políticas industriais prontas. Há que ter pragmatismo e conhecimento histórico. Nada pode ser descartado a priori, nem mesmo as velhas fórmulas de fortalecimento do mercado interno.