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BRASÍLIA - Será uma grande surpresa se José Dirceu escapar da cassação no plenário da Câmara, em votação que tem grande chance de ser realizada na noite de hoje.
Apesar das evidências em contrário, estava sendo propagada uma onda nas últimas duas semanas nos corredores do Congresso: a situação do ex-ministro não estaria mais tão ruim como no início do escândalo do "mensalão". Essa interpretação tem pouca conexão com realidade. A cassação do petista continua sendo uma espécie de troféu quase único que os políticos oferecerão à opinião pública na eleição de 2006.
Não pelas mesmas razões, três nomes tiveram grande popularidade entre os vilões da atual crise política dentro do Congresso. Primeiro, Roberto Jefferson, já cassado (aliás, o único político até agora punido formalmente depois de mais de seis meses de escândalo). O segundo foi Severino Cavalcanti, o do mensalinho. O terceiro é José Dirceu.
Os demais deputados cassáveis são acessórios. Conhecidos em suas cidades, não passam de grandes anônimos do ponto de vista nacional. Alguém se lembra de memória qual é o Estado e partido dos cassáveis João Magno, Romeu Queiroz e Josias Gomes? Resposta: PT-MG, PTB-MG e PT-BA, respectivamente.
Salvar José Dirceu e cassar essa turma de anônimos não resolve o problema dos deputados. A maioria dos 513 políticos que ocupa a Câmara precisa de um argumento ético mínimo na eleição do ano que vem. Esse discurso certamente inclui ostentar a expulsão do ex-ministro da Casa Civil -as bengaladas que o petista tomou ontem são um sinal de como o eleitorado anda ansioso por uma punição exemplar.
Nessa história toda, a lástima foi o trabalho mal feito pelas três CPIs na coleta de provas materiais. Se o Congresso tivesse investigado para valer os envolvidos, a discussão hoje seria em outro patamar. O número de cassáveis seria muito maior. E o risco de bengaladas seria gigante.