sábado, novembro 26, 2005

EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO

NÃO SABIA?
Ainda que não tenha trazido grandes novidades, o depoimento da empresária do setor de transportes urbanos Rosângela Gabrilli à CPI dos Bingos jogou mais uma pá de cal na frágil tese do desconhecimento que tem servido de refúgio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o início da crise política.
Em seu relato, Gabrilli não só confirmou a hipótese de que havia um esquema de achaque a empresários operando em Santo André, durante o mandato Celso Daniel, como reforçou a suspeita de que o assassinato do prefeito não teria sido crime comum -hipótese agora descartada por Lula com base nas investigações da PF e da Polícia Civil de São Paulo.
Segundo a empresária, seu pai Luiz Alberto Ângelo Gabrilli e mais seis empresários foram extorquidos pela prefeitura durante cinco anos. O esquema seria orquestrado pelo ex-secretário de Serviços Municipais Klinger de Oliveira Souza e contaria com a participação do empresário Ronan Maria Pinto, além de Sérgio Gomes da Silva, suspeito de ser o mandante do assassinato de Daniel.
Ainda de acordo com o relato, em 2003, sua irmã, Mara Gabrilli, foi recebida pelo presidente da República quando teve a oportunidade de denunciar as irregularidades. Como de hábito, a conversa teria terminado com a promessa de que o governo iria averiguar as denúncias.
Revelações como essas, somadas a muitas outras que o país tem testemunhado, se avolumam para tornar cada vez mais inverossímil a fábula de ingenuidade tecida pelo presidente Lula e pela elite petista. A cada dia soa mais inverossímil a alegação de que Lula teria sido candidamente enganado por "traidores" instalados no interior de seu próprio partido.
É mais fácil crer que, como os fatos têm revelado, à medida que a possibilidade de chegar ao poder foi se tornando mais concreta e os custos das campanhas se agigantando, o PT foi aderindo, na prática, aos expedientes ilícitos que, no discurso, sempre condenou.