sexta-feira, outubro 21, 2005

Ilimar Franco - O PT vai à luta

Ilimar Franco
- O PT vai à luta

- Interino
O Globo
21/10/2005

Os petistas, a despeito da posição do Palácio do Planalto, vão intensificar o enfrentamento com o PSDB e o PFL. O partido, que sai bastante desgastado da crise, não quer passar para a História como tendo patrocinado o maior esquema de corrupção de todos os tempos. Nem aceita que seus adversários criminalizem o PT como fizeram com o PMDB no escândalo do Orçamento, em 1993.

Há três semanas, a bancada do PT na Câmara se reuniu e seus integrantes fizeram duras críticas aos petistas que participam da CPI dos Correios. Cobraram deles uma postura mais combativa. Reclamaram da falta de empenho destes em incluir os parlamentares do PSDB, que receberam recursos do valerioduto nas eleições de 1998, no relatório parcial aprovado na CPI e que resultou no pedido de abertura de processo para cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar de 18 deputados.

— A oposição pretende carimbar que no nosso governo ocorreu o maior escândalo de corrupção da História do país. Mas isso não se sustenta nos fatos. Eles querem passar a idéia de que a corrupção no país teve início em janeiro de 2003 — diz o líder do PT, Henrique Fontana (RS).

A reação da direção do PT não chega ao ponto de defender os deputados que estão sendo processados por quebra de decoro parlamentar. Pelo contrário, eles reconhecem que uma parte do partido cometeu erros e vai pagar por isso. Mas reclama que se dê tratamento igual para quem cometeu o mesmo delito. Os petistas argumentam que seus correligionários vão ser cassados por caixa dois na medida em que no relatório da CPI não existem provas que vinculem o recebimento dos recursos a atos concretos e específicos de corrupção.

— Se a pena para o caixa dois é a cassação do mandato, então todos têm que ser cassados, inclusive o deputado Roberto Brant (PFL-MG) e o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Tem que ter isonomia — afirma Fontana.

Maculados, os petistas pretendem empatar o jogo atirando contra o PSDB e o PFL. Eles sabem que isso não os livra dos erros cometidos nem de pagar pelas irregularidades em que se envolveram membros do governo e da antiga direção do partido. Mas vão atacar para conter o ímpeto das oposições e impedir que elas vendam a imagem de que são os novos paladinos da ética.

Frase do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) para o deputado Moroni Torgan (PFL-CE): "Cada vez que se vota aqui nessa Casa o povo perde, então é bom que não se delibere nada".

Marinho quer gastar mais com formação

Os petistas e aliados estão sendo estimulados pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, a apresentarem emendas para ampliar os recursos no Orçamento da União para 2006 destinados aos programas de formação e qualificação profissional.

— Estamos investindo menos do que deveríamos nessa área. Com o crescimento da economia é necessário ter uma política agressiva de qualificação — diz Luiz Marinho.

O ministro considera o orçamento previsto para este ano, R$ 73,5 milhões, insuficiente. Este valor é inferior aos R$ 75,1 milhões investidos na formação profissional em 2003. E, por isso, Marinho está pleiteando junto à área econômica a ampliação das verbas para R$ 120 milhões. Para o ano que vem a previsão é de apenas R$ 85 milhões.

Marinho lamenta que as centrais sindicais estejam impedidas de continuar prestando esse serviço. Irregularidades no uso do dinheiro do FAT, ocorridas no governo anterior, impedem que as centrais recebam dinheiro para manter seus programas de qualificação da mão-de-obra.

Na defesa

Os tucanos dizem que não há base jurídica para que o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), e o ex-líder na Câmara Custódio de Mattos (MG) respondam a processo por quebra de decoro. Os dois não eram parlamentares quando o valerioduto irrigou a campanha do PSDB mineiro. Custódio argumenta que o Código de Ética diz que a quebra de decoro só se aplica a quem está no exercício do poder.

Atrito

Não são boas as relações dos auditores do TCU colocados à disposição da CPI dos Correios com o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O problema é de método de trabalho. Serraglio reclama que os auditores produzem relatórios sem ouvir o outro lado. Preocupado com a consistência das conclusões, ele decidiu chamar vários servidores dos Correios para depor antes de colocar sua assinatura nos relatórios.

O EX-PRESIDENTE da Câmara João Paulo Cunha (PT-RS) pediu ao líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), uma reunião com a bancada dos tucanos para defender seu mandato. Goldman recusou alegando que nos processos de cassação por quebra de decoro parlamentar não haverá orientação partidária.

O PRESIDENTE Lula foi advertido ontem, pelos líderes governistas, que haverá obstrução às votações do Orçamento da União para 2006 e de créditos suplementares para este ano, por causa da ação do Executivo, no STF, contra o reajuste de 15% concedido aos servidores do Legislativo.
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