Do ponto de vista estritamente político, a maior punição para um deputado ou senador é a cassação. Fernando Collor sofreu um impeachment. Não foi preso, mas nunca mais se elegeu a nada.
O sucesso das CPIs que investigam o escândalo do "mensalão" estará relacionado ao número final de cassados. Ou as cassações se consumam ou a sensação será de impunidade.
"Não se pode condenar sem provas" e "as penas têm de ser diferenciadas" têm sido os mantras dos mensaleiros. É verdade. Só que o número reduzido de cassados será realidade por dois motivos: 1) as CPIs, por inépcia, foram incapazes de apurar os fatos ou 2) produziu-se uma grande pizza.
Até porque o senso comum no Congresso é que o dinheiro distribuído pela dupla Valério-Delúbio irrigou dezenas de campanhas políticas pelo país. A memória nacional é curta, mas, no início do caso, falava-se em 60 a 80 congressistas envolvidos. No mínimo. Onde está essa turma toda? Ficou reduzida a menos de 20.
Se caixa dois é coisa de "bandido", como paradoxalmente afirma Márcio Thomaz Bastos, todos os políticos beneficiados pelo valerioduto devem ser punidos. Não serão.
Pior. Cinco já renunciaram ao mandato. Devem voltar no ano que vem. Dos 14 ainda processados, a única certeza é que não serão todos cassados. Alguns escaparão pela inexistência de provas consistentes -resultado da incúria das três CPIs.
A CPI do Orçamento (93/94) investigou crimes menos tentaculares que os do "mensalão". Listou 18 para a degola -houve quatro renúncias, seis cassações e oito absolvições. A sensação de impunidade foi grande à época. Era uma indignação evanescente. Meses depois, virou pó.
Em 94, poucos deputados foram cassados, só que o Plano Real bombou, o Brasil foi tetracampeão mundial de futebol e FHC se elegeu presidente logo no primeiro turno. Agora é quase igual. O mundo não acaba, mas não deixa de ser péssimo para a construção de um país decente.
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