Duas agências de classificação de risco acabam de elevar a nota do Brasil, enviando ao mercado financeiro mais um sinal positivo a respeito do País. A mensagem, como de costume, foi emitida com certo atraso. A imagem brasileira melhorou o suficiente, nos últimos anos, para o Tesouro emitir no exterior papéis em reais. O governo federal já captou o bastante, em 2005, para liquidar seus compromissos em moeda estrangeira neste ano e já começou a acumular recursos para enfrentar os vencimentos de 2006. Mas, apesar do atraso, a elevação da nota pelas agências de risco é uma novidade bem-vinda. É um reconhecimento a mais da melhora das condições brasileiras - e as classificações, apesar de criticadas, ainda têm algum peso na formação da imagem de um país. Cada agência utiliza letras, números e sinais com significados próprios, em suas escalas, mas algumas características são comuns. Em primeiro lugar, os países são divididos em dois grandes grupos. Acima e abaixo da linha divisória, há 10 graus de classificação, com o topo, naturalmente, ocupado por algumas economias muito estáveis e muito seguras em todos os sentidos, como a americana, a francesa, a alemã, a holandesa, a suíça e as dos principais países nórdicos. Os países com melhor imagem recebem "graus de investimento". Em cada nível a nota ainda pode ser acrescida de uma avaliação positiva, negativa ou estável. O Brasil, apesar da melhora, continua na divisão inferior, no terceiro degrau abaixo da linha divisória. Entre seus companheiros mais próximos estão a Turquia, a Ucrânia e o Vietnã, na classificação da Moody's. Acima da linha divisória, já com "graus de investimento", há vários emergentes, como o Chile, o México, a África do Sul e a Malásia. China, Rússia e vários países do Leste Europeu também estão nessa área. O México está cinco posições acima da nova classificação do Brasil na lista da Moody's. A diferença cai para quatro posições na relação da Standard & Poor's e para três na da Fitch. Essa diferença é explicável, em grande parte, pela dimensão do comércio exterior do México e pela relação muito mais favorável entre sua dívida externa e suas exportações. Para explicar a melhora da classificação brasileira, a Moody's mencionou, em comunicado, o forte aumento das exportações, os ganhos de competitividade e a diversificação do comércio exterior, medida tanto pela pauta de produtos quanto pela variedade dos mercados. Todos esses fatores, somados ao desempenho fiscal, contribuíram, segundo a agência, para tornar o País menos vulnerável a choques externos e para aumentar sua solvência. A Fitch enumerou também, entre os fatores favoráveis, a redução da inflação e a resistência da economia brasileira aos impactos da crise política iniciada no fim do primeiro semestre. A agência aponta como fator negativo, no entanto, as características da dívida pública brasileira. Os vencimentos ainda são de curto prazo e ela continua elevada em relação ao tamanho da economia. Todos os fatores apontados pela Moody's e pela Fitch, tanto os positivos quanto os negativos, alimentam o debate econômico brasileiro no dia-a-dia. Talvez se possa acusar as agências de reagir com atraso às mudanças nos fundamentos da economia brasileira. Mas não se pode, pelo menos neste momento, acusá-las de desconhecer os fatos mais importantes. O País, tudo indica, poderá subir mais alguns degraus, com certa rapidez, se o governo mantiver firmeza na política fiscal e se os juros, ao mesmo tempo, caírem mais rapidamente. Se quiser, o governo poderá até elevar a meta de superávit fiscal de 4,25% para 5% do Produto Interno Bruto sem precisar diminuir os gastos. Precisará, isto sim, ser mais rigoroso e realista na seleção dos cortes e das despesas prioritárias. Quanto aos juros, haverá condições para apressar a redução se houver segurança na área fiscal. Melhor classificação de risco acaba resultando em melhores condições de financiamento para o País. É uma das chaves para um crescimento econômico mais veloz. O Executivo poderá perder essa chave, no entanto, se tentar usar o gasto público e a redução atabalhoada dos juros como recursos eleitorais.
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