FSP
SALAMANCA - Um cartaz improvisado no centro de imprensa que o governo espanhol montou para a Cúpula Ibero-Americana de Salamanca avisava que, em algum momento, os presidentes Vicente Fox (México), Ricardo Lagos (Chile), Álvaro Uribe (Colômbia) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) dariam entrevistas coletivas aos cerca de 2 mil jornalistas credenciados.
Os três primeiros foram. Já de parte do Brasil, o que houve foi uma espécie de choque ao tomar conhecimento do aviso de que Lula falaria, quase como se fosse conspiração. Houve até reclamação com os organizadores, como se dar entrevista coletiva nesse tipo de ocasião seja algo inusitado ou impróprio.
O fato é que até a hora em que tenho que escrever para este espaço (16h40 em Salamanca, 11h40 no Brasil), Lula não aparecera. Havia gestões para que falasse, no seu hotel, apenas para os brasileiros.
Não dá para entender a mudez de Lula. Há problemas sérios no país? Há. Mas Fox tem os seus (inundação, sucessão também no ano que vem, com favoritismo de uma espécie de Lula mexicano, o velho Lula). Lagos está a dois meses da eleição do sucessor (talvez sucessora). Uribe enfrenta ainda uma guerra interna, para não falar da hostilidade dos que o consideram preposto norte-americano em uma região ainda com vestígios de forte anti-norte-americanismo.
De todos os principais líderes presentes a Salamanca, só acabaram não falando Lula e Kirchner, que é também refratário por completo à mídia, a não ser aos amigos.
Azar deles. Nenhum dos jornalistas brasileiros que veio a Salamanca terá o salário reduzido porque Lula não falou. Nem haverá queda ou aumento de circulação dos jornais.
Mas num ponto o lulismo tem razão: a informação de meios brasileiros segundo a qual, ao falar de corrupção, Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, estava dando um puxão de orelhas em Lula, que teria ficado constrangido, é pura invenção.