FOLHA DE S PAULO
BRASÍLIA - Aldo Rebelo pode ganhar, Lula pode recuperar sua popularidade. Tudo pode. Mas a eleição de hoje para presidente da Câmara marcará a mais aberta operação recente de intromissão do Poder Executivo sobre o Congresso.
Em setembro o governo liberou mais verbas do Orçamento para deputados e senadores do que nos oito meses anteriores. Os três ministros do PMDB tiveram uma reunião com Lula para montar uma operação a favor do candidato oficial à presidência da Câmara, Aldo Rebelo.
Candidatos e seus representantes foram chamados ao Palácio do Planalto para "conversar" e conhecer argumentos palpáveis e concretos a favor do comunista Aldo. Em troca de apoio, o PL ouviu até a promessa de que receberia um ministério -possivelmente o da Educação.
Faz sentido. Ao dar essa pasta para um partido citado no escândalo do "mensalão", Lula tentará disseminar pelo Brasil a cultura que já implantou dentro do Congresso.
O fascinante é toda essa parafernália não ter sido suficiente ontem para clarear o cenário. No final do dia, só as previsões de votos disparatadas de sempre. "Eu tenho 180 votos", dizia um candidato. "Eu já passei de 150", afirmava outro. Somados, esses apoios chegavam perto de 700. A Câmara tem apenas 513 cadeiras. Tem muito blefe e traição no ar.
Não é desprezível, por óbvio, o efeito do rolo compressor do Planalto. O dinheiro do Orçamento pingando nas contas das obras paroquiais dos deputados falará alto nos corações dessa turma. Mas ninguém nunca deve esquecer do formato da eleição de hoje: haverá voto secreto.
O grau de imprevisibilidade com que o governo entra na eleição de amanhã é diretamente proporcional à fragilidade política de Lula. Se os deputados tiverem um pouco de vergonha na cara e votarem pela independência da Casa, o Planalto está frito. Mas vergonha na cara não tem sido um predicado muito comum no Congresso nos últimos tempos.