sábado, setembro 24, 2005

FERNANDO RODRIGUES O baixo clero vive

FOLHA DE S PAULO
 BRASÍLIA - Quando Severino Cavalcanti foi eleito presidente da Câmara em fevereiro, houve uma sensação de surpresa no ar. Desta vez, tudo mudou. A vitória de alguém do baixo clero é mais do que possível.
A Câmara dos Deputados e o Senado vivem um vácuo político. Há alguns anos, bastava falar com dez deputados para saber mais ou menos o que aconteceria no Congresso. Agora, depois de conversar com 50 congressistas, ainda é difícil de entender como andam as coisas.
Soa falso ouvir caciques dizendo ter "x" votos para eleger determinado candidato a presidente da Câmara. Também é relativo o poder de certos ministros para conquistar apoios -ainda que Lula tenha começado uma rodada de reuniões determinando a intromissão explícita do Planalto no atual processo.
Toda vez que um ministro ligar para um deputado pedindo voto, a resposta vai ser mais ou menos assim: "Ministro, e aquela minha pendência? Aquela minha emenda ao Orçamento que não foi liberada?".
Promessas de liberação de emendas não colam mais no Congresso. Ali, não se aceita nem pagamento à vista. Só antecipado. Não há tempo para essa operação fisiológica. Os R$ 500 milhões separados ontem estão atrasados. A eleição é quarta-feira.
O governo, o PT e os partidos aliados a Lula estão perdidos e sem direção na disputa pela presidência da Câmara. Será uma surpresa maior do que a eleição de Severino Cavalcanti se o Palácio do Planalto sair vencedor -até ontem à noite, o candidato chapa-branca era o comunista Aldo Rebelo, do PC do B.
O máximo que deu para ouvir de um ministro que conversou com Lula ontem, a respeito de Aldo Rebelo, foi: "Mas não dava para ter encontrado alguém que viesse com rodinhas para a gente ter mais facilidade de empurrar?". É esse candidato que a bancada do PT será obrigada a apoiar. É difícil acreditar que vai dar certo.