FOLHA DE S PAULO
SÃO PAULO - Talvez a solução para o problema da política brasileira (sim, a política brasileira tornou-se um problema ou sempre o foi) seja reproduzir o que aconteceu com aquele jato da JetBlue, cujo quase desastre foi transmitido ao vivo para os passageiros quase vítimas.
Seria apenas uma questão de inverter a direção para onde olham as câmeras ou de fazer um "celebrity show" às avessas. Em vez de o público ficar em casa, olhando aquele punhado de famosos-quem-mesmo?, os deputados e senadores é que ficariam trancados no Congresso durante um certo tempo, enquanto os eleitores seriam focalizados fazendo seus comentários a respeito deles e da política em geral.
Mas não os comentários do tipo "o povo fala" a que as tevês recorrem com freqüência. Seriam as conversas do cotidiano, no botequim, nos locais de trabalho, nos intervalos dos telejornais, na mesa do café com a família, no almoço de domingo, no churrasco dos amigos, no vestiário da "pelada" e assim por diante. Ou seja, "reality" comentários.
Imagino que os nobres parlamentares sentiriam o mesmo pânico que deve ter invadido os passageiros do jato ao ouvirem especialistas discorrerem sobre as chances de sobrevivência das quase vítimas (engraçado como a TV sempre tem um especialista à mão para tudo, desde a influência da galinha na arte medieval até quase queda de jatos).
O mesmo pânico talvez seja pouco. O que se fala aqui em baixo sobre os políticos em geral, quase sem exceções, é impublicável.
Mas eles parecem não se dar conta ou não ligar a mínima. Tanto que estão, de novo, brincando de eleger o presidente da Câmara sem o menor respeito pela necessidade de restaurar algo do prestígio da instituição.
Talvez, então, um show em que sejam não os personagens, como agora, mas as vítimas do falatório, lhes devolvesse o fio terra há muito perdido. Ou talvez dissessem apenas, sobre o falatório: "Faz parte".