folha de s paulo
BRASÍLIA - É melhor se sujeitar a duras críticas e ganhar do que não fazer nada e perder. Foi a partir dessa lógica política irretocável que o governo operou todos os seus instrumentos a favor de Aldo Rebelo (PC do B-SP) na eleição à presidência da Câmara. Depois de uma sucessão de erros, foi uma decisão correta.
Os líderes atuaram, os ministros fizeram o que podiam, Lula aderiu ao vale-tudo no "convencimento" dos deputados. Até abriu as portas do Planalto para Luiz Antonio Fleury, candidato do PTB, Sandro Mabel, um dos 18 da CPI dos Correios, e Valdemar da Costa Neto, que renunciou antes de ser cassado.
Sabe-se lá o que acertaram, mas eles ficaram felizes. Fleury manteve a candidatura, impedindo a migração de seus votos para Ciro Nogueira, favorito do baixo clero. E o PL de Mabel e Valdemar fechou com Aldo.
A vitória de Aldo é um alento para um governo especialista em perder e para Lula em 2006. Ele atuou na eleição da Câmara pensando num único horizonte: a reeleição.
Como seqüela, o governo jogou fora a chance de articular um apoio em bloco do PMDB, vantajoso na eleição na Câmara e promissor para Lula em 2006. Renan (governo) e Temer (oposição) saem dessa se odiando. O sonho da unidade fica mais distante.
No mais, a eleição foi equilibrada entre Aldo e José Thomaz Nonô (PFL-PSDB-PPS-PDT-PV-Prona), o que é animador: reconstitui a tradição de disputa entre governo e oposição. Por mais que tenham entrado os ingredientes fisiológicos, tratou-se de uma luta política, com dois candidatos à altura do cargo.
Assim, recolocou as coisas nos seus devidos lugares e deixou evidente que a vitória de Severino foi um episódio, não uma tendência. Ciro Nogueira não deu para o gasto. O baixo claro voltou ao seu tamanho real.
Agora, é torcer para que as "elitezinhas" de Aldo, Temer e Nonô reassumam o controle da situação e façam a Câmara funcionar e ter altivez diante do Executivo. Já é tempo.