folha de s paulo
BRASÍLIA - "Malandro é malandro, mané é mané. E aqui [no Congresso] não tem mané."
Foi assim, parodiando Bezerra da Silva, que o deputado João Caldas, da base aliada ao Planalto, reagiu à tentativa do governo de impor o ex-ministro Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara.
Foram erros crassos do Planalto e do PT que construíram a vitória de Severino Cavalcanti, hoje atribuída ao PSDB e ao PFL. Na verdade, eles entraram no fim da farra. E é a partir de erros igualmente crassos que o Planalto e o PT se uniram agora para fortalecer o adversário. No andar da carruagem, José Thomaz Nonô, do PFL, tem boas chances.
O PT se perdeu em lutas internas, a base aliada se estilhaçou e o PMDB minou as boas chances de Michel Temer, enquanto a oposição fechou com Nonô. Que, justiça se faça, trabalhou direitinho. Uniu o PFL, conquistou o PSDB, declarou-se contra o impeachment e foi respeitoso até o último minuto com Severino.
Como eleição não se ganha de véspera e falta uma eternidade até quarta-feira, o mais prudente é acompanhar os passos do governo: o convencimento do próprio PT, as negociações com a base aliada, as ofertas ao baixo clero. E ver o que acontece com Temer, que tem reunião com PP, PTB e PL. Juntos, eles acabam com Aldo.
O quadro, hoje, é favorável a um segundo turno entre Nonô, pela oposição, e Aldo ou Temer pelo governo. O fiel da balança pode ser o "baixo clero", com seus malandros e manés em busca de candidato, de poder e das benesses do governo -que finalmente entrou no jogo.
Para sorte do Planalto, perder não vai ser nenhum deus-nos-acuda. Nonô tem status para o cargo, representa bem a instituição e não vai jogar sujo com Lula. Nem precisa. O governo é craque em se derrotar sozinho.