quarta-feira, setembro 28, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM

 Severino Cavalcanti é uma experiência a não se repetir. A sociedade não tolerará nenhuma solução de compromisso que interfira no necessário processo de cassação de mandatos e de investigação do escândalo de corrupção. Essas diretrizes deveriam nortear os parlamentares que hoje vão decidir quem presidirá a Câmara dos Deputados até o fim da atual legislatura.
A desarticulação absoluta do governismo petista e o sentimento de revanche da oposição foram as duas forças que concorreram para alçar um até então folclórico deputado de Pernambuco à condição de segundo político na linha de sucessão do presidente da República.
Contrariando alguns analistas que vislumbravam em Severino uma liderança com potencial, o pepista cumpriu à risca o que desde o início prometia. Demonstrou baixíssima capacidade de exercer seu posto, traço exacerbado quando o escândalo de pagamento de deputados irrompeu e não encontrou na cadeira de Severino alguém capaz de compreender a delicadeza do momento nem de conduzir a Casa em meio à tempestade.
Se foi ainda mais vexatório para a imagem do Parlamento o modo como essa aventura de pouco mais de sete meses terminou -num escândalo de corrupção miúda, o "mensalinho"-, o fato mesmo de ter terminado deu aos deputados uma oportunidade de consertar o estrago.
O sucessor de Severino, em contraste ao próprio, terá de estar imbuído de um senso de missão. Seu mandato é curto, de transição. Arestas no campo ético, por menores que sejam, tomarão a dimensão de uma tragédia para a desejável recuperação da imagem da Câmara diante da opinião pública. O mesmo raciocínio vale para qualquer disposição a curvar-se a pressões de interesses inconfessáveis.
A Câmara ganhou uma rara, talvez única, segunda chance de se redimir de decisões profundamente infelizes do passado recente. Que os deputados federais não a desperdicem.