Ao contrário do que alardeiam os dirigentes do partido, o saldo da atual crise política sobre o PT até agora tem sido o pior possível. Em vez da "refundação", o que se vê é a perpetuação de grupos políticos dirigentes e práticas que levaram o partido à pior crise de sua história.
Ciclo iniciado nesta semana, o desligamento de deputados e líderes petistas com antiga atuação no partido é uma das faces visíveis do processo. Nos últimos anos, o triunfo do pragmatismo de resultados do grupo liderado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo ex-ministro José Dirceu -o Campo Majoritário- já havia reduzido a expressividade das diversas correntes que compunham a sigla. Com a provável vitória do candidato do mesmo grupo, Ricardo Berzoini, nas eleições ao Diretório Nacional, a possibilidade de uma reestruturação do jogo de forças se reduz muito.
As práticas ilícitas e o despreparo político-administrativo saem premiados. O mesmo grupo político hegemônico no PT que se mostrou incapaz de expulsar o ex-tesoureiro -e "réu confesso"- Delúbio Soares, que manteve quadros como Waldomiro Diniz e Silvio Pereira (premiado com um jipe de luxo por um empresário que tinha negócios com a Petrobras), que se mostrou incapaz de organizar eleições internas livres de clientelismo e compra de votos segue incumbido de ditar as diretrizes do partido. E com um benefício: o desligamento de dissidentes há de tornar a resistência menor.
Sem condições políticas de apresentar candidato próprio à sucessão da Câmara, tendo agora perdido a condição de maior bancada para o PMDB, o PT não demonstra ter encontrado força interna para mudar esse quadro agudo de degeneração.
Em encontro recente, ficou célebre a expressão "no passarán", empregada por uma de suas ideólogas mais eminentes, para se referir às supostas investidas da direita contra o partido. São cada vez mais raras, contudo, as vozes capazes de dizer o mesmo às práticas condenáveis que insistem em se perpetuar no PT.