terça-feira, setembro 27, 2005

CLÓVIS ROSSI A crise terminal

folha de s paulo
SÃO PAULO - Deus desistiu de ser brasileiro. É a única explicação possível para o acúmulo de desgraças que se abatem sobre o país tropical.
Agora, aliás, vem a tragédia definitiva, a do futebol. Que houvesse corrupção na política, vá lá. No fundo, todo o mundo acha (e não só no Brasil) que político é tudo ladrão mesmo, ainda que seja uma injustiça com a meia dúzia que se salva.
Que o governo Lula houvesse trocado a esperança pelo mensalão, também vá lá. Todo o mundo no Brasil está acostumado a uma sucessão de estelionatos eleitorais. Um a mais, um a menos, não ia mesmo fazer grande diferença.
Mas o futebol era sagrado. Sim, já sei que houve muitos casos anteriores de corrupção, já sei que houve muitos esquemas de acertar resultados no Brasil e no exterior (um deles, na Itália, envolvendo um possível parente, o tal de Paolo Rossi, que eliminou o Brasil da Copa de 1982, praticando crime de lesa-futebol).
Mas, ultimamente, o Juca Kfouri até andava meio quieto, no seu furor antimensalões da bola nas suas várias vertentes. Parecia que a coisa estava entrando nos eixos. No mínimo, no mínimo, o domingo era o único dia em que se podia ver TV sem ouvir palavras como escândalo ou corrupção, desde que ficássemos ligados nos programas esportivos.
Já estávamos até acostumados a ver o campeonato japonês disputado no Brasil (na medida em que todos os grandes jogadores foram para o exterior, os times viraram todos iguais ou muito parecidos, como se japoneses fossem).
O pior de tudo é que, no Brasil, não se pode confiar nem no arranjo de resultados, porque as gravações provam que nem tudo saiu como planejado pela máfia das apostas.
É a humilhação final: não somos competentes nem para roubar.