A convicção de que as CPIs são um fracasso, não produzindo mais do que espetáculos de inútil mau gosto, está generalizada. O melhor aval a essa conclusão frustrante é dado pelo próprio presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral, apesar da sua afirmação de que "não tem acordão nem essa CPI termina em pizza de jeito nenhum". Delcídio Amaral decidiu deixar o exercício da presidência ao vice e ir ele mesmo escarafunchar documentos e tentar investigações. Como se fosse decisão louvável para a sua CPI.
A explicação dada para o fracasso é uma "guerra de egos" na CPI, idéia já consagrada, mas que atende melhor ao procurado brilhareco de expressões interessantes. É evidente que os parlamentares do PFL, do PSDB e uns quantos outros usam as CPIs para exibir-se na TV. A exibição, porém, não é incompatível com a eficácia. No exemplo extremo, ninguém soube se exibir melhor do que Carlos Lacerda, a ponto de quase não se perceber a artificialidade em sua teatralização, mas raros adversários escaparam à sua ânsia demolidora.
A ineficácia dos oposicionistas decorre, sobretudo, da crescente queda de qualidade do Congresso. A cada eleição, o corpo parlamentar se revela mais aquém do necessário, e não por maior presença de representantes do chamado povão, mas porque a condição de parlamentar se transforma em atrativo meio de enriquecimento fácil. Já desde a vereança. Raras são, hoje em dia, as pessoas qualificadas e amadurecidas que procuram se integrar à vida política. Entre os da nova geração parlamentar, mesmo quando haja bons propósitos, em maior dose se mostram a falta dos saberes adequados e a fome de projeção.
Na outra banda, a dos petistas e aliados do governo, não há egos em guerra com os egos oposicionistas. O que há é carência de egos. A despersonalização exibida pelos petistas é o aspecto mais constrangedor do espetáculo das CPIs. Os petistas estão entregues nas CPIs, alguns com o ar mais contrafeito, ao papel de guarda-costas dos planejadores, comandantes e executores daquilo que condenaram a vida inteira. Sua obstrução ostensiva à investigação desmoralizou-se, e a eles também, pelas revelações de corrupção. Passaram, e mantêm, ao jogo duplo, de defender em palavras as apurações e dificultá-las ou deformá-las na prática. Suas perguntas são sempre capciosas, seus votos sempre prontos a negar inquirições e providências que ponham sob riscos os seus protegidos. Promissores vários deles, esses guarda-costas petistas estão em guerra com o seu ego, reduzido a adorno. Figuram como integrantes de CPI, mas são seus adversários.
Não é necessário o "acordão", sempre repelido por Delcídio Amaral e pelo relator Osmar Serraglio, para que as CPIs tornem definitivo o seu fracasso. É só deixarem o tempo escorrer, como têm feito com as inquirições imprestáveis e longas discussões a propósito de nada. Assim terminarão por encerrar-se, com a proposta de meia dúzia de cassações que nada significarão diante da tarefa devida por toda CPI. A do Banestado, de tão graves questões, é um cadáver exemplar do que pode ocorrer.
Em dois meses e meio, os parlamentares das CPIs não deram uma só contribuição ao esclarecimento das fontes, mecanismos e reais alcances da corrupção que enlaçou os bandos podres do governo e do Congresso.