folha de s paulo
BRASÍLIA - Hoje começa agosto, o mês do desgosto no folclore político nacional. Suicídio de Getúlio, renúncia de Jânio, morte de JK, impeachment de Collor, o cardápio é variado, contendo por vezes protagonistas e coadjuvantes que poderiam estar em "Sin City", a interessante colagem de violência e cultura pop de Frank Miller em cartaz nos cinemas. Na "cidade do pecado" de Miller, ninguém se salva. Os heróis são sórdidos e sádicos, e as mocinhas, capazes de coisas indizíveis. Dos bandidos, nem se fala: há de cardeal canibal a político corrupto. Parece Brasília, ainda que por aqui não haja notícia de clérigos antropófagos. Na Sin City candanga, agosto começa respeitando o mau agouro histórico. Primeiro, Simone Vasconcelos, a guardiã das autorizações de Marcos Valério, vai depor. Quem ela vai entregar, e com qual grau de detalhamento? O recém-famoso Bob acabará chamado para falar sobre a, digamos, bagagem de 20 anos de convívio com José Dirceu? Amanhã, Dirceu contra outro Bob, o Jefferson. Duelo digno de um bom faroeste de John Ford ou mais próximo do nível dos embates de "Sin City"? Uma coisa é certa: vai haver sangue, e a extensão da hemorragia poderá definir o papel reservado ao presidente Lula no enredo. Nas linhas paralelas da história, a extração de papéis enlameados do "buraco do tatu", um dos simpáticos nomes da sala-cofre da CPI, segue acelerada. E os coadjuvantes, temendo por seu destino na trama, resolveram abrir o bico. Primeiro, Genu do PP. O próximo, Lamas do PL. Quem mais se habilita?
Enquanto isso, em nota de rodapé, a UNE decalca os jogos de cor de "Sin City" e cria um novo personagem: o cara-pintada-de-branco. A entidade joga no lixo sua história, talvez amaciada por anos de administração do cartel das carteirinhas de meia-entrada e verbas afins, e se junta a outros "movimentos sociais" na defesa chapa-branca da imagem presidencial. Melhor ficar com a ficção.
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