Folha de S Paulo
BRASÍLIA - Quem vai estar hoje no banco dos réus do Conselho de Ética da Câmara não é um deputado qualquer. Ele já foi chamado de "primeiro-ministro", "homem forte" e "braço-direito" do presidente da República. Tudo o que disser terá um peso imenso, especialmente se seu depoimento virar uma acareação com o seu algoz, Roberto Jefferson. José Dirceu é um réu forte, porque é guerreiro, e frágil, pelas suspeitas que se multiplicam contra ele desde o escândalo Waldomiro Diniz. Diniz recebia propina e o chefe Dirceu não sabia de nada. Tanto quanto Dirceu liderava mil e uma traquinagens e o chefe Lula não sabia de nada. A expectativa nacional é que Dirceu parta para o ataque, por personalidade e porque está acuado e simplesmente não tem defesa. Quanto aos alvos, é provável que distribua lama para os adversários externos, caso dos tucanos, e internos, caso da nova cúpula do PT. Tarso Genro não acaba de dizer que o Campo Majoritário morreu? Pois Dirceu vai tentar mostrar que está bem vivo. Se puder. A grande dúvida no mundo político é como Dirceu vai tratar Lula no depoimento. É fato que ele está ferido e irritado com o presidente, que lava as mãos e o lança aos leões. Mas Dirceu é homem de poder, de ortodoxia, de centralismo. Chutar Lula poderia ser tentador, desde que não significasse chutar também o projeto de uma vida inteira. Somando tudo, a melhor aposta é que Dirceu tentará ser frio, calculista e implacável. Sem atingir diretamente Lula, mas deixando recados no ar. Roberto Jefferson foi para o ataque muito bem munido com as informações que tinha, de dentro, do "modus operandi" do governo e do PT. Se ele já era bem informado, imagine o que Dirceu sabe de tudo e todos. Sabe, não conta, mas avisa com toda a clareza que, algum dia, por algum motivo, pode muito bem contar.
Valdemar Costa Neto é só o primeiro do castelo de cartas.
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