O Globo
Há sinais péssimos nas pesquisas de opinião. A crise está corroendo a confiança no governo e no presidente. Apenas 12%, diz o Datafolha, acham que não há corrupção no governo, 80% acham que o presidente tem responsabilidade e 67% acham que o PT pagava mensalão. A ficha começou a cair no mercado financeiro, que tem ficado dia após dia mais pessimista. A reação do presidente de agitar sindicatos em vez de prestar esclarecimentos à nação aumenta a incerteza.
O mercado financeiro vol tou a ter ontem um dia de pessimismo. Essa mudança comprova o que disse aqui desde o começo: não há como blindar a economia e separá-la de uma crise tão vasta. Até agora, a confiança do mercado era maior entre estrangeiros que entre analistas brasileiros e se baseava na idéia de que a política econômica não seria alterada e que, se o presidente Lula fosse atingido, a eleição de 2006 seria ganha pelo PSDB. Agora essa visão tosca começa a ser substituída por outra mais bem informada.
Há bons fundamentos. Alguns excelentes. O Bradesco voltou a mudar sua previsão de saldo comercial do ano; foi para US$ 41 bilhões. A inflação prevista para 2005 caiu pela décima semana, ainda que apenas esteja voltando às previsões do começo do ano. Isso melhora o quadro, mas nada garante sua manutenção se a crise política continuar se agravando ao ritmo em que piorou nas últimas semanas. Impressionante é a queda do IGP-M. Já há previsões de que o índice possa fechar o ano em 3,3%.
Por outro lado, na opinião pública, houve uma deterioração rápida da avaliação da crise. Entre os petistas, 76% acham que o presidente Lula tem muita responsabilidade ou um pouco de responsabilidade na corrupção. Não é muito distante da convicção do partido que mais tem combatido o governo. Entre os pesquisados que têm o PFL como seu partido de preferência, 84% acham que o presidente tem alguma ou muita responsabilidade nos casos de corrupção, apenas oito pontos percentuais a mais que a percepção dos petistas.
Entre os entrevistados pelo Datafolha que têm curso superior, 83% acham que o PT pagava mensalão. Como esse grupo é o que se informa mais rapidamente, o número fica mais impressionante. Entre os que têm apenas o fundamental, 57% já acham que o partido do governo comprava votos. É um erro de cálculo achar que essa deterioração rápida da confiança no governo, no partido do governo e na pessoa do presidente Lula não terá maiores efeitos.
O que atrai mais a atenção é o Aprova/Desaprova ou a avaliação de ótimo-bom sobre ruim-péssimo. Um olhar superficial pode fazer concluir que o presidente está bem. E está bem principalmente entre os menos instruídos, portanto a melhor estratégia é partir para o confronto, criando uma divisão no país, convocando o povo e acusando a elite. Essa conclusão é errada e a estratégia, um equívoco. A crise terá de ser enfrentada da única forma possível: apuração, transparência, punição de todos os culpados. Os mesmos sinais preocupantes estavam inclusive na pesquisa da CNT-Sensus, que o governo comemorou como prova de que o presidente permaneceria inatingível.
O governo deveria olhar por dentro das pesquisas para ver como está se dissolvendo rapidamente a imagem sobre a qual o PT construiu sua vitória em 2002. No Datafolha, houve um aumento de mais de 143% dos que acham que há corrupção no governo em apenas seis meses. A alta de 32% para 78% é avassaladora para um período tão curto.
No Ibope, havia várias más notícias para o governo: dos 72% que tiveram conhecimento das denúncias de corrupção, apenas 1% as considera totalmente falsas e 47% acreditam que elas são totalmente verdadeiras. O ex-ministro José Dirceu, que foi, nos primeiros dois anos e meio do mandato, a pessoa mais forte do governo, está total ou parcialmente envolvido nas denúncias de corrupção para 76% dos entrevistados pelo Ibope. Esses não são números tranqüilizadores, pelo contrário, indicam que o governo errou até agora na condução da crise. E ele não está, ao contrário do que pensa, protegido pela popularidade do presidente Lula.
Até agora o presidente não fez o que se esperava que ele fizesse. Não deu a devida satisfação ao país sobre os estarrecedores fatos diariamente expostos no noticiário. O país tem tentado interpretar suas falas. A pior delas foi aquela em que ele justificou crime eleitoral. A estratégia posta em prática neste fim de semana é desastrosa. Um ingrediente de maior incerteza na crise é a capacidade, que se mostrou até agora ilimitada, de o presidente e o governo piorarem o quadro por inabilidade.
A economia sentiu ontem queda forte da bolsa, alta forte do dólar e o risco também subiu, continuando o movimento iniciado na sexta-feira. O economista Roberto Padovani, da Tendências, acha que isso é apenas um ajuste de grandes bancos como Merrill Lynch e Goldman Sachs, que estavam otimistas em relação ao Brasil e demonstraram agora estar um pouco mais cautelosos.
— Mas não é uma onda de venda de todos os ativos do Brasil em carteira, como ocorria nos anos 90 — disse.
Por enquanto, pode não ser uma onda de vender Brasil, mas os sinais de preocupação aumentam a cada dia.
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