O GLOBO
O que torna a política fascinante é a permanente mutação, e uma das suas regras de ouro é saber que ninguém está definitivamente morto. Mas a crise atual, por exemplo, já deixou alguns corpos pelo caminho, resolvendo da maneira mais drástica a disputa de foice no escuro em que se transformara a definição sobre o candidato a governador de São Paulo pelo PT, e alimentando as ambições dentro do PSDB.
Foram caindo pelo caminho potenciais candidatos que, em outras ocasiões não muito distantes no tempo, tinham poder de empacar as decisões, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
Ferido de morte por um cheque de R$ 50 mil sacado por sua mulher na boca do caixa do Banco Rural em Brasília, João Paulo hoje tenta definir não a melhor estratégia para se impor ao partido como candidato, mas qual a melhor hora de renunciar ao mandato para poder disputar a eleição de 2006.
O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, hoje devolvido à Câmara, já apareceu como um possível curinga nessa disputa de egos e prestígios. Quando, ao reassumir o mandato de deputado federal, anunciou que seu sonho é governar o Estado de São Paulo, parecia mais um complicador na disputa interna do PT.
Da mesma maneira que João Paulo, Dirceu hoje só faz se preparar para o depoimento no dia 2 de agosto na Comissão de Ética da Câmara, onde deve enfrentar frente a frente seu acusador, o deputado Roberto Jefferson. Com o mandato a prêmio, José Dirceu é carta fora do baralho na sucessão paulista neste momento, e também pode renunciar para preservar seu direito de tentar voltar como deputado federal na próxima legislatura.
A ex-prefeita Marta Suplicy, embora continue no páreo, vê suas chances se dissolverem à medida que sobem os índices de popularidade do prefeito tucano José Serra, que a derrotou. Sem prestígio dentro da nova direção nacional do PT, da qual é primeira-vice mas nem sequer foi cogitada para um mandato tampão — que também não lhe servia aos planos, mas, se oferecido, mostraria seu prestígio dentro do partido — Marta Suplicy não parece capaz de enfrentar o senador Aloizio Mercadante, que surge da crise como o candidato natural do partido. Uma espécie de “seleção natural” foi acontecendo no PT, transferindo para o PSDB a maior angústia.
Com a crise no PT, vários nomes tucanos já começam a se sentir em condições de vencer a disputa pelo governo de São Paulo, que era dada como favas contadas a favor do PT. Hoje, são candidatos do PSDB o ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza — que seria o preferido do ex-presidente Fernando Henrique — o vereador José Aníbal, o deputado federal Alberto Goldman, além de secretários do governador Geraldo Alckmin.
O senador Eduardo Suplicy, que poderia ser uma opção ética nesse momento em que o PT pretende se “refundar”, já se lançou a candidato à única vaga do Senado. Dois outros personagem daquela que é a mais importante seção do partido — o ex-presidente José Genoino e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci — estão em situações opostas: Genoino, alvejado no peito por dólares escondidos em cuecas e avais a empréstimos de Marcos Valério, não está em condições políticas de repetir, pelo menos por agora, a façanha de ir para o segundo turno em uma eleição majoritária como a de governador.
Já o ministro Palocci, mais do que nunca o esteio do governo com sua política econômica, pode vir até mesmo a ser o candidato do PT à Presidência da República caso o presidente Lula desista de se candidatar à reeleição em 2006. Com a queda de José Dirceu, o PT não tem outra alternativa viável para substituir Lula.
Como se vê, mais do que nunca depende da política paulista a definição do quadro em que se dará a disputa pela Presidência da República em 2006, especialmente no PT, mas também no PSDB, onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso continua dando o rumo ao partido, e se mantendo no noticiário político ajudando o partido a encontrar caminho próprio na oposição. Embora pareça cada vez mais um grande eleitor, e não candidato à Presidência.
Mesmo com as últimas pesquisas mostrando que o prefeito de São Paulo, José Serra, é a opção mais viável para vencer Lula, o PFL continua vendo no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, uma alternativa melhor, como aliás já queria tê-lo como candidato na última eleição, em vez de Serra.
A vitória de Serra na eleição para a prefeitura paulistana recolocou o grupo de Fernando Henrique no controle do partido em São Paulo, limitando as ações do atual governador que, embora tenha sido o vice de Mário Covas, não é do grupo político que gerou o PSDB.
A afirmação de Alckmin como candidato do PSDB à Presidência parecia consensual, mas à medida que a possibilidade da derrota de Lula começa a existir com mais força no cenário político, novas opções dentro do PSDB se movem.
O governador de Minas, Aécio Neves, não deixa que sua candidatura, nem a de Fernando Henrique, desapareçam das especulações, apenas para marcar espaço. Com a reeleição praticamente garantida ao governo de Minas, não é provável que Aécio lute pela vaga, mesmo com Lula enfraquecido.
O mais provável, hoje, é que a disputa interna no PSDB se dê entre Alckmin e Serra. O governador tem o respaldo de um apoio maciço em São Paulo, onde, segundo as pesquisas, vence Lula com facilidade. Serra é o que tem mais popularidade nacionalmente, graças ao recall da campanha presidencial, e cresce na aprovação dos paulistanos. Deixar a prefeitura a menos de um ano de eleito é um problema a ser superado. O quadro de crise política, no entanto, pode justificar a quebra de compromisso.
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