Folha de S Paulo
BRASÍLIA - Há uma percepção generalizada de que o pior da crise já passou, mas ainda é cedo para isso. Há toneladas de documentos sendo analisados e muita coisa ainda pode surgir até a terrível definição de quantos, quais e quando devem ser cassados no Congresso.
A descoberta dos nomes do deputado Roberto Brant, do PFL, e do senador Eduardo Azeredo, presidente do PSDB, entre os que faziam saques nas contas do "esquema Marcos Valério" foi em boa hora. Serviu como um freio de arrumação. Hora de reflexão, de "gradação" de culpas.
A oposição falava abertamente na possibilidade de impeachment, mas ninguém mais pronuncia a palavra maldita, porque as condições políticas para essa aventura são nulas.
1 - Não há nada fechado envolvendo o nome de Lula e da família dele;
2 - Sua popularidade se mantém estável, apesar de tudo;
3 - Um Congresso em frangalhos teria condições morais de votar o impedimento? E logo de Lula?
4 - Não interessa nem para o PSDB, nem para o PFL, nem para o empresariado, nem para o eleitorado, nem para a academia. Para ninguém.
5 - José Alencar é previsível para baixar os juros e imprevisível em todo o resto, especialmente na economia.
6 - Cassar Lula, com toda sua história, seu simbolismo, sua imagem internacional seria como escancarar as portas. Qualquer outro seria "cassável", pelo motivo mais banal. O Brasil não é exatamente um Equador ou uma Bolívia para derrubar presidentes de dois em dois anos.
Dito isso, rejeite-se a polaridade: Lula terminará o mandato e será candidato à reeleição, logo Lula está fortíssimo. Não é tão simples. Ao contrário, Lula está ferido. Perdeu a aura, caiu do pedestal, esgotou o estoque de metáforas, ficou sem seus principais homens, isolou-se.
A reeleição parece improvável. Mas, mesmo que ele ganhe, pergunta-se se é suficiente. Governar com e para as classes "C", "D" e "E" é ótimo. Mas alguém governa só com elas?
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