Que a crise é séria todos sabem. Que é de natureza moral, ninguém duvida. Que envolve grande parte da classe política é inquestionável. Todos sabem também o que fazer: apurar os fatos, identificar os responsáveis e puni-los na forma da lei. O que não cabe, neste momento, é pôr mais lenha na fogueira, como, por exemplo, incitar a luta de classes. A saída da crise depende da manutenção de um clima de união nacional. Depende ainda da preservação dos valores centrais da nossa sociedade. As famílias não podem se desagregar porque certos políticos demonstraram não ter ética e amor à pátria. Os jovens não podem se entregar à pilhagem porque alguns mandatários foram flagrados saqueando os cofres públicos. Os produtores e os trabalhadores não podem parar suas atividades porque viram seus impostos serem carregados por governantes inescrupulosos. A saída da crise depende do fortalecimento desses valores. O Brasil não pode ser confundido com os governantes. Vivemos em uma terra maravilhosa e que foi regiamente contemplada por Deus em matéria de recursos naturais e tolerância do povo. Em qualquer outro país da América Latina, os desmandos constatados teriam detonado uma convulsão social. Os brasileiros são diferentes. Possuem uma paciência infinita e um espírito de resignação invejável. Precisamos capitalizar sobre esses traços da personalidade nacional e não abrir guerras de uns contra os outros. O momento exige a utilização da crise como alavanca de mudança -como fazem os chineses. Para tanto, nada melhor do que ultimar o que precisa ser feito para o Brasil crescer mais depressa, gerar mais empregos e garantir o progresso das pessoas. Mais especificamente, esta é a hora de os integrantes dos Poderes da República fazerem um esforço extra para aprovar os projetos de urgência e que já estão em pauta, tais como: (1) cortar os gastos supérfluos do governo -e há muitos; (2) utilizar as economias para aumentar os investimentos públicos, em especial em infra-estrutura; (3) reduzir os juros reais, que hoje são de 12% ou 13%, a patamares civilizados de 5% ou 6%; (4) promover de uma vez por todas a reforma tributária sobre a qual tanto se falou e pouco se fez; (5) enfrentar com coragem a modernização das leis trabalhistas de modo a simplificar a burocracia e reduzir as despesas de contratação. Muitos argumentarão que, se essas mudanças não saíram em tempos de paz, jamais sairão em tempos de crise. Penso diferente. De um lado, há a necessidade de apurar as contravenções e punir os culpados. De outro, a nação adquiriu mais direitos para exigir dos dirigentes um esforço extra não para alcançarem o perdão, mas, simplesmente, para cumprirem o seu dever principal e demonstrarem, claramente, que foram eleitos para servir o público, e não se servir da coisa pública. Amanhã reabrem os trabalhos legislativos. É a hora exata para os parlamentares e para o governo mostrarem que responsabilidade e amor à pátria são o melhor caminho para vencermos a atual crise.
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