domingo, julho 31, 2005

Editorial de O Globo Lição para o PT



OCongresso é cobrado, como deve ser, a conduzir da forma mais séria e profunda possível a investigação do escândalo do caixa dois de campanhas eleitorais e do pagamento de mensalões na compra de apoio ao governo no plenário do Congresso.

Ao largo da CPI e da Comissão de Ética da Câmara, tramita um outro processo de depuração, que também precisa transcorrer da mesma forma. Trata-se do trabalho de auditoria interna no PT e de levantamento de informações sobre a participação de militantes graduados no escândalo — ou pelo menos noticia-se estar em curso esse trabalho de investigação.

Se a frustração da opinião pública causada por alguma eventual tibieza do Congresso na definição de responsabilidades e na cassação de mandatos seria desastrosa para a imagem do próprio regime de democracia representativa, a constatação de que a atual cúpula do PT foi leniente com companheiros flagrados em delito teria efeitos corrosivos sobre o partido, já abalado pela crise.

Tanto para o Congresso quanto para o PT, a única alternativa saudável é a expiação pública dos erros e ilegalidades cometidos, com as devidas punições. Prevê-se para o PT uma fase de retração de militância e quadros. Muito do futuro da legenda, no entanto, vai depender das eleições em setembro, nas quais o Campo Majoritário, grupo até agora hegemônico no partido, será representado por Tarso Genro, presidente em mandato-tampão, que irá para o teste do voto em confronto com tendências mais à esquerda.

É sintomático que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, líder supremo do Campo Majoritário, esteja sendo fustigado nas ruas por militantes do PSTU e do P-SOL, duas opções de portas abertas a petistas desgostosos.

Vai ser importante, também, saber se o PT aprenderá com a lição desse escândalo, provocado pela tentativa de se tomar de assalto a máquina pública, aparelhando-a, para colocar o Estado a serviço do partido e de um projeto de poder.

Como já se viu em outros momentos da História, quando os fins começam a justificar os meios, partidos, políticos e países entram na rota de grandes desastres.

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