sexta-feira, julho 29, 2005
Editorial de O Globo Acordo do bem
O balanço de quase dois meses da crise política instalada pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson demonstra que o ex-aliado do governo sabia do que falava. O mensalão existia e a cúpula do PT caiu, por estar envolvida no propinoduto montado por Delúbio Soares e Marcos Valério. O ex-ministro José Dirceu é candidato incontestável a novo alvo da evolução dos acontecimentos, mas as suspeitas sobre a participação do presidente Lula no caso não têm passado de suposições.
No entanto, para quem se preocupa com a estabilidade do país — neste momento função direta da estabilidade econômica — o cenário político é preocupante, por ser potencialmente perigoso. Anda-se sobre uma corda bamba.
As contas externas continuam em ordem — como analisado no editorial abaixo. Mas elas são insuficientes para, por si sós, sustentar a economia na eventualidade de um agravamento da crise.
Fazem sentido, portanto, iniciativas como a do senador pedetista Jefferson Peres de propor um acordo entre os grandes partidos (PT, PMDB, PFL, PSDB e PDT), uma espécie de pacto, para garantir a estabilidade.
Peres se inspira no pacto chileno firmado entre os partidos para garantir as conquistas econômicas obtidas pelo regime militar, após o afastamento do ditador Augusto Pinochet. O senador, embora contrário à idéia do déficit zero, como formulada por Delfim Netto, acertadamente apóia o aumento do superávit primário para 5% do PIB como um dos pontos desse pacto.
Ao mesmo tempo, a Confederação Nacional da Indústria se prepara para apresentar ao governo e ao Congresso uma "agenda mínima", com o mesmo objetivo: manter a economia à margem da crise. Reativar a agenda de votações importantes no Congresso será uma maneira eficaz de proteger os agentes econômicos de incertezas decorrentes da crise. E, assim, evita-se a postergação de projetos de investimento, e garante-se a expansão econômica futura. O coordenador político do governo, Jaques Wagner, em entrevista ao "Jornal da Globo", abriu as portas do Planalto para essas negociações. Bom começo.
Mas é essencial que, pacto ou acordo, nada possa reduzir o rigor na investigação do escândalo e na punição dos culpados.
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