Já há sinais de que a crise política preocupa setores dos mercados financeiros, como se verificou anteontem, com a queda de 3,39% do índice Bovespa e a alta de 2,67% da cotação do dólar. A turbulência teria sido provocada por capitais especulativos administrados por "hedge funds", que abandonaram posições nos mercados futuros de câmbio e juros. Trata-se de um tipo de capital extremamente volátil, que se antecipa a eventuais movimentos mais abrangentes de investidores.
Não há dúvida de que crises políticas, a depender de suas dimensões e perspectivas, contaminam a economia. Não apenas os mercados financeiros mostram-se sensíveis mas também o próprio setor produtivo, cujas apreensões se manifestam com a postergação de investimentos.
Todavia, apesar da gravidade dos acontecimentos na esfera política, é preciso levar em conta outras realidades. Em que pese a sinalização de alta dos juros norte-americanos de longo prazo, o cenário internacional ainda é de elevada disponibilidade de recursos. Diante das baixas taxas oferecidas pelas principais economias, essa liquidez tem sido canalizada para os mercados emergentes, que pagam "prêmios" mais vantajosos.
No caso brasileiro, as taxas de juros fixadas pelo Banco Central são um grande atrativo para capitais que podem entrar e sair do país a seu bel-prazer. Além disso, o Brasil reduziu claramente sua vulnerabilidade externa ao passar a produzir vultosos superávits comerciais num contexto de crescimento econômico que, mesmo longe de ser espetacular, deve prosseguir no médio prazo.
Salvo mudanças internacionais significativas ou o surgimento de fatos mais contundentes, a relação custo-benefício oferecida pelo Brasil pode se manter bastante atraente para os investidores financeiros.
Os sinais de volatilidade, no entanto, devem se refletir em posições ainda mais cautelosas do BC no que tange à taxa de juros, o que tende a se traduzir em dificuldades para o setor produtivo, com impactos negativos no dinamismo da economia.
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