Não fosse a crise política, haveria razões para acreditar na economia no próximo ano. Essa é a conclusão do grupo "Máquinas e Planilhas", economistas, estrategistas e operadores de mercado, de diversas tendências, que se reúnem mensalmente em São Paulo para avaliações de conjuntura.
O expositor convidado foi Nelson Rocha, presidente da BB DTVM, que expôs a estratégia a seguir, com contribuições do grupo:
Etapa 1: mudança do mix de combate à inflação - A inflação brasileira é fruto de uma conjugação de fatores. O desafio consiste em utilizar os instrumentos de política econômica, distribuindo melhor as atribuições, desafogando a política monetária.
Etapa 2: desindexação de tarifas - O governo deverá aproveitar o fim dos contratos iniciais de telefonia, em 2006, para começar a acabar com a correção automática das tarifas.
Etapa 3: mudança do indexador de mercado - Os gestores de fundos não conseguem montar estratégias de longo prazo, porque seu curto prazo é monitorado pela comparação com o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). A Andima tem trabalhado com o Tesouro e a Cetip para criar novos índices.
Etapa 4: alteração do perfil da dívida pública - A institucionalidade do ambiente de mercado mudou muito. Hoje em dia, já se emitem papéis de quatro anos com relativo conforto. A partir da definição de outros índices, ficará mais fácil a mudança do perfil da dívida publica. No último ano, já houve uma notável redução dos títulos cambiais e um salto nos títulos prefixados, que passaram de 17% para 23% do total.
Etapa 5: o crédito como alavanca - Existe uma enorme indústria de fundos hoje em dia, com ativos correspondendo a 40% do PIB -nível comparável a Portugal e Espanha e muito superior a qualquer país emergente. As estatísticas apontam que o crédito corresponde a 27% do PIB. Mas, se forem incluídas as debêntures lançadas até agora, esse índice sobe para 32%. Além disso, começam a ganhar corpo outros instrumentos, como os Fundos de Direitos Creditórios.
O crédito poderá se constituir em forte alavanca para a recuperação da economia, porque impacta setores de bens de primeira necessidade, onde existe capacidade ociosa. E também o mercado de capitais, com forte poder de atração sobre capitais externos.
Visão sobre juros e câmbio
Há a suspeita, por parte de alguns estrategistas, de que a inflação vai desabar e a taxa Selic cairá muito mais rapidamente do que o mercado suspeita. A convicção vem do comportamento da atual equipe do BC em 2003.
Também para o próximo ano, o comportamento da inflação será fortemente amenizado pelo "carry over" dos preços administrados. Neste ano, o "carry over" era de 12%. No próximo ano, andará na margem contrária, caminhando abaixo dos demais preços.
Se se mirar para déficit nominal controlado e para superávit primário de 4,21%, não haverá espaço para taxas de juros elevadas. Se essa percepção aumenta, passa a ser um estímulo para quem pretender comprar papel longo e apostar no mercado de capitais.
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