editorial da folha de s paulo
Na reuniã o de seu diretório nacional, no último sábado, o PT aprovou um documento em que tenta se defender das acusações de corrupção e manifesta solidariedade ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Composta por 12 pontos, a resolução, intitulada "Em defesa do PT, da ética e da democracia", procura reiterar a idéia de que o partido continua a ser o guardião da ética na política. Mas, em seu empenho em atribuir a crise a uma "inescrupulosa campanha" que visa a desmoralizá-lo, o documento é mais um indício da desorientação com que os dirigentes petistas têm reagido à crise.
O documento sustenta que as denúncias são fruto de uma "campanha patrocinada por setores da oposição e pela direita". Adiante, anuncia que não aceitará acusações de setores ansiosos por "desmoralizar a esquerda, seus valores e seu projeto histórico". Não obstante, a carta sugere que a "direita" ataca o governo nas questões de ética porque não haveria outros flancos para fazê-lo.
São argumentos que reforçam a fantasiosa idéia de que haveria uma conspiração em curso. Batizada de "golpe branco", a hipótese, levantada pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, tornou-se objeto de alguns artigos e reapareceu em declaração do líder do MST, para quem tudo não passaria de uma orquestração dos Estados Unidos e de corporações multinacionais.
Em que pese o delírio da suposição, o fato de o PT corroborá-la exige que se reforce o óbvio. Ou seja, em primeiro lugar, que as invectivas partiram de um aliado do governo, e não da oposição. Se Jefferson é representante de uma direita retrógrada, ninguém sabia disso melhor que o PT.
Em segundo, não faz sentido pensar numa conspiração da "classe dominante" por um motivo simples: nenhum de seus interesses foi contrariado. Ao contrário, o PT repete a política econômica da gestão anterior e tem recebido renovados elogios do sistema financeiro. Por fim, lideranças do PSDB têm procurado, como o PT não desconhece, evitar que a crise se traduza em desestabilização do governo.
É verdade que o ranço conspiratório é comum na retórica das alas radicais do PT, mas que a direção do partido endosse esse discurso é sinal de que a legenda se mostra incapaz de enfrentar a crise com realismo.
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