folha de s paulo
BRASÍLIA - Alô, alô, terráqueos! De volta do mundo da Lua -quer dizer, das férias-, tento identificar o tal "complô das elites" para destruir a esquerda e o governo de um retirante nordestino que assumiu para mudar tudo e livrar o Brasil, quiçá o mundo, das grandes injustiças sociais.
A olho nu, no entanto, parece o oposto: se há um complô, é justamente para livrar a cara de Lula de toda essa sujeira. Havia corrupção nos Correios? O presidente não sabia. O PT compra deputados em espécie para votar com o governo? O presidente não tinha nada com isso. As reuniões para discutir cifras e votos eram numa "salinha do Planalto"? O presidente não tinha a menor idéia.
Até o próprio Jefferson, em prosa, verso ou canto, concentra-se em José Dirceu e preserva Lula. A opinião pública está enojada, mas nem por isso acusa o presidente: "Eu desisto. Nas próximas eleições para deputado e senador, vou votar branco ou nulo", diz um comerciante no interior do Rio Grande do Sul. E o Lula? "Bem, o Lula é diferente."
É evidente que a oposição, especialmente PSDB e PFL, joga firme contra o PT e o governo. É evidente que a imprensa independente investiga tudo e todos. É evidente que os eleitores querem saber quem comprou, quem se vendeu, quem desviou. Isso não é nenhum complô. É o mais natural.
Recorrer à fantasia do complô e desqualificar Roberto Jefferson como denunciante é coisa de quem não tem defesa. Ninguém melhor do que os Robertos Jeffersons para explicar aqueles "20 mil, 30 mil" que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, admitiu para a Folha na sua primeira entrevista depois de eleito.
Nos grandes escândalos, Sarney, Collor, FHC e todos os demais se saíam com essa: os fatos não eram fatos, eram apenas resultado de um complô entre as elites e a imprensa. Também para eles, os denunciantes eram desqualificados e farsantes.
Será que nem nisso o governo do PT consegue ser original?
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