Japão , Índia e mais ninguém. Finalmente, Washington anunciou a sua proposta de reforma do Conselho de Segurança da ONU. O movimento congela as peças no tabuleiro diplomático, cancelando todas as opções de reforma. O CS permanecerá intocado.
A lógica da proposta americana encontra-se na esfera da geopolítica e responde à obsessão dos neoconservadores republicanos com o poderio crescente da China no sistema internacional. No seu modelo de reforma, dois rivais regionais da China -uma potência econômica não-nuclear e uma potência demográfica com arsenal nuclear limitado- equilibrariam os pratos da balança de poder na Ásia. Os dois novos membros permanentes votariam com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha nos temas estratégicos cruciais, compondo uma maioria mais ou menos estável.
Washington sabe que esse "modelo dos sonhos" não é viável, pois esbarraria nos vetos da China, da França e da Rússia. Mas ele cumpre as funções de eximir os Estados Unidos da responsabilidade pelo fracasso da reforma e de enterrar em definitivo o chamado Modelo A, elaborado pelo G-4 (Alemanha, Japão, Índia e Brasil). Esse modelo, que prevê o ingresso de seis novos membros permanentes (os quatro mais dois países africanos), já enfrentava a oposição do auto-intitulado Grupo pelo Consenso, no qual se coligaram os países que rejeitam os ingressos da Alemanha (Itália e Espanha), do Japão (China), da Índia (Paquistão) e do Brasil (Argentina, México e Colômbia).
A ONU, assim como sua antecessora, a Liga das Nações, emanou do colapso do sistema internacional provocado por uma guerra geral. O G-4 sustenta a reforma do Conselho de Segurança sob o argumento de que o fim da Guerra Fria assinala o encerramento geopolítico da Segunda Guerra Mundial e representa uma revolução na "sociedade de Estados". As cinco potências do CS estão comprovando a natureza idealista do argumento. Só o teste da guerra pode gerar um consenso sobre a distribuição do poder: eis a mensagem dos cinco.
Celso Amorim transformou o argumento idealista em bússola da política externa brasileira. Agora, o jogo acabou. Mas o Itamaraty continua refugiado no país da fantasia, como revelam as declarações de Ronaldo Sardenberg, o embaixador brasileiro na ONU, que há poucos dias assegurou: "O governo brasileiro tem um sentido total de realidade nesse negócio. Nós não estamos numa jogada para fazermos atos arbitrários ou inesperados, causar surpresa, para perder". Em política externa, perder é uma circunstância da vida; inadmissível é engajar a nação no mau combate. Em nome da cadeira permanente no CS, o Brasil elogia ditaduras que violam os direitos humanos, desempenha a função de pistoleiro de aluguel de Washington no Haiti, desgasta a aliança estratégica com a Argentina e compromete a integração sul-americana.
A reunião de cúpula do Mercosul, no último fim de semana, escancarou as dimensões da crise que já ameaça a sobrevivência do bloco. A única surpresa positiva apareceu numa frase do discurso proferido por Lula: "Em nosso processo de integração, não há lugar para hegemonismos nem podem prevalecer interesses imediatos e visões de curto prazo". Isso só pode ser interpretado como autocrítica da sua política externa. Será, finalmente, um sinal de mudança de rota?
Demétrio Magnoli escrev
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