sábado, junho 25, 2005

Crise pode afetar a governabilidade



Leôncio Martins Rodrigues, O Estado de S. Paulo (23/06/05)

A atual crise política tem algumas características que dificultam um prognóstico sobre seus desdobramentos. A primeira delas é que não temos uma crise institucional que, no momento, abale os fundamentos da ordem democrática. Desse ângulo, é claramente diferente de crises vivenciadas em décadas anteriores. O risco de algo equivalente só poderia vir de uma forte "pressão de massa" extraparlamentar, visando a abafar qualquer investigação que afete o governo Lula. Mas não parece que o PT tenha hoje condições de mobilizar eficazmente seus desiludidos aliados sociais.

A segunda característica é a ausência de campos político-ideológicos definidos. Apesar dos gritos contra o "golpe branco da direita", o próprio governo tem como aliados o PP, PL, o PMDB e o próprio PTB, que não são propriamente de esquerda. Para enfraquecer uma análise em termos ideológicos, parte da esquerda - como o PPS e o PSOL - coloca-se do lado da "direita", que seria representada por PSDB e PFL.

Resulta daí a terceira característica: a existência de muitos atores atuando independentemente e com grande autonomia. Não se trata apenas do número de partidos envolvidos mas do fato de que vários deles, a começar pelo PT, estão divididos. A própria oposição, PSDB e PFL, não partilha das mesmas opções táticas. O resultado é um quadro político fragmentado em que os ânimos estão exacerbados e as instituições da democracia representativa, desmoralizadas.

Embora, no momento, nenhuma ameaça à ordem legal pareça existir, não convém menosprezar o potencial de risco futuro para a governabilidade e, por conseqüência, para a economia. Ou vice-versa.


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