folha de s paulo
CARACAS - A América Latina, incluído o Brasil, que é apenas maior, mas não é essencialmente diferente dos vizinhos, vive a crise típica da morte do velho sem que o novo tenha aparecido. O velho, no caso, é, para simplificar, o tal Consenso de Washington, o modelo dito neoliberal que é hegemônico na região.
Hoje ninguém mais o defende, ainda que muitos reconheçam que tenha tido lá seus méritos. Nem mesmo seus codificadores, que já lançaram uma nova versão.
Que seja rejeitado é natural: nos 20 anos dos chamados "ajustes estruturais" na região, o crescimento econômico foi a metade do da Ásia e inferior ao das três décadas entre a Segunda Guerra Mundial e os anos 80, quando o modelo batizado de nacional-desenvolvimentista entrou em colapso. São as contas do economista boliviano Horst Greber, consultor da Corporação Andina de Fomento, que patrocinou um "encontro de reflexão" sobre a América Latina.
Além disso, "degradou-se a qualidade do emprego e houve crescimento da informalidade".
Do meu ponto de vista, o maior problema do Consenso de Washington deu-se menos na economia e mais na política: o debate sobre alternativas ficou interditado. Quem tentava discuti-las era, no governo passado, "jurássico" ou "neobobo". Com o governo atual, é como dialogar com surdos. Inútil.
Greber, na sua exposição de ontem a um punhado de líderes políticos e acadêmicos da região, mais este pobre repórter, propôs "um novo consenso latino-americano que seja uma síntese das duas experiências anteriores da região". Ou seja, nem a impossível volta ao passado nacional-desenvolvimentista nem continuar na trilha no mínimo insatisfatória dos anos mais recentes.
Mas esse novo consenso terá de surgir de um amplo diálogo político que rompa a ditadura do pensamento único e a inércia em que a região se arrasta. Nada fácil, mas melhor do que a mediocridade vigente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.