folha de s paulo
CARACAS - Perplexo? Desorientado? Desiludido? Calma, você não está só. Esse tipo de sentimentos jorrou a borbotões ontem, no primeiro dia do "encontro de reflexão" sobre a América Latina, patrocinado pela Corporação Andina de Fomento.
O pior é que dói ouvir representantes de países bem mais pobres que o Brasil dizerem coisas que se aplicam perfeitamente ao mais rico país sul-americano.
Como o relato de Enrique García, o presidente da CAF: o ano passado foi, na economia, o melhor dos últimos 25 anos para a região. Mesmo assim, mantido o ritmo e ainda que o mundo rico cresça abaixo da média, levará entre 70 e 110 anos para a América Latina alcançá-lo.
Ou como a constatação de Moisés Naím (venezuelano que mora em Washington, onde dirige a "Foreign Policy"): "É uma região sob tensão. Governar, dirigir e liderar na América Latina é mais difícil que nunca" (que o diga Lula).
Do mesmo Naím: "Seqüestro hoje é um evento cotidiano na América Latina. É uma epidemia regional".
Ou como constata Louis Emmerij (especialista da ONU): "A América Latina foi de um extremo a outro a partir dos anos 80. Passou pelo Consenso de Washington e o resultado líquido é perto de zero" (em termos de desenvolvimento).
De Beatriz Moreno (peruana, hoje no Banco Mundial): "Democratizou-se a corrupção".
Ou ainda o grito da especialista Rebeca Grynspan (Costa Rica): "Esse pessoal acha que basta ter o coração à esquerda para que, uma vez no governo, se resolvam os problemas sociais. Não é isso. É preciso uma política de combate à desigualdade".
Teria mais, muito mais. Mas basta relatar que, no almoço, se listou como uma das "idéias perigosas" à solta na sub-região a de que a América Latina não tem jeito, não tem conserto. Vale para o Brasil.
Mas, se tem jeito, ninguém ainda, de direita, de centro ou de esquerda, descobriu qual é.
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