SÃO PAULO - Tende a passar como episódio menor, em meio à baita confusão em que a pátria está metida, a tentativa de rotular como delator o presidente do PT, José Genoino.
Não é episódio menor. É tão grave, a rigor, quanto os casos de corrupção, estes ainda a serem devidamente apurados. Trata-se, na prática, de reivindicar a tortura, o que deveria ser crime inafiançável.
Genoino nega a delação dos companheiros da guerrilha do Araguaia, mas não importa minimamente se ela ocorreu ou não. Se aconteceu, não foi crime, foi apenas humano.
Amarrados em uma árvore, no meio da floresta, em um ambiente em que a tortura era a lei hedionda, 99,9% dos seres humanos delatariam os pais como os assassinos de Jesus Cristo e ainda diriam onde estariam escondidos.
Não há crime algum nesse comportamento. Crime, sim, é tratar de vender a idéia de que o errado não é torturar, mas delatar. Infame comportamento, que, no entanto, foi encampado por um deputado (Jair Bolsonaro, PP-RJ) sem que se cogite de submetê-lo ao Conselho de Ética.
Há, no episódio, dois crimes: ao reivindicar a tortura, conspurca uma das raras grandes conquistas do período democrático, que foi a de restabelecer o primado da civilização sobre a barbárie.
Segundo: ao insinuar que indecente é confessar, e não torturar, tenta fazer a lavagem das soluções de força justamente em um momento de auge do desprestígio dos políticos e das instituições, terreno propício para o surgimento de todo o tipo de aventureiros e salvadores da pátria.
Fora o fato de ser covarde usar o momento de fraqueza do PT para tentar golpear pelas costas o presidente do partido.
Genoino pode ter mil culpas, mas, nesse episódio, ele é a vítima, jamais o culpado.
sábado, junho 25, 2005
CLÓVIS ROSSI :A culpa que Genoino não tem
folha de s paulo
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