Coisas da Política |
Jornal do Brasil |
30/6/2005 |
Derrubado do Planalto pelo megaventilador de Roberto Jefferson, o primeiro-ministro José Dirceu perdeu o latifúndio no coração do poder e a tarja de capitão presenteada por Lula. Não perdeu a pose: invocou a necessidade de cumprir na planície uma dupla missão. O autonomeado comandante das tropas do PT, da CUT e do MST liquidaria o exército de golpistas que inventam casos de corrupção para derrubar o governo. Como deputado, reduziria a pó as denúncias e acusações documentadas que vão ampliando o pântano da corrupção. Uma por falta de soldados, outra por escassez de argumentos, as duas versões de Dirceu falharam na missão. E já bateram em retirada. Talvez tenha sido o mais bisonho dos muitos recuos. São tantos que permitem desconfiar de que a formação militar em Cuba não se limitou à escolinha de guerrilheiros freqüentada pelo "compañero Daniel". O histórico do combatente sugere que ele decerto se diplomou, com louvor, também num curso de especialização em retiradas precedidas por bravatas belicosas. Ainda nos anos 70, voltou clandestinamente ao Brasil para derrubar a bala a ditadura militar. Notou que a paisagem andava bem mais feia que a vislumbrada do Caribe. Retirou-se para uma cidade no interior do Paraná e ali ficou escondido cinco anos. Disfarçado de comerciante. No começo de 2003, mandava e desmandava na Casa Civil quando foi golpeado na testa pelo escândalo protagonizado por Waldomiro Diniz. Ainda convalescente da pancada, já sobraçava a metralhadora portátil. Principal assessor de Dirceu, Waldomiro aparecera na TV como astro do videobandido em que tentava extorquir propinas de um bicheiro. Além de assessor de elite, Waldomiro era amigo havia nove anos de Dirceu, com quem dividira um apartamento em Brasília. "Daqui a alguns dias vou colocar os pingos nos is nessa história", disparou o ministro. A voz ameaçadora sugeria alguém com granadas na garganta. Pura bazófia.Obravo guerreiro bateu novamente em retirada. Entrincheirado na Casa Civil, não tocou no assunto durante 15 meses. Os pingos nos is que Dirceu sonegou também faltam ao inquérito que se arrasta na Polícia Federal. A investigação padece de anemia encomendada. Quem esbanja saúde é o extorsionário trapalhão. Dispensado da incumbência de atrair para o rebanho governista deputados sensíveis a dinheiro ou nomeações, Waldomiro trocou as batalhas no Congresso por incursões pelos supermercados de Brasília. Recomenda-se atenção aos gerentes. O estilo do guerrilheiro "Daniel" manifestou-se exemplarmente nosmovimentos executados depois da queda recente. Mandado para a reserva, o velho capitão de Lula jurou retomar a guerra na planície.Nodia do regresso à Câmara, o terno do deputado parecia coberto por um impalpável sobretudo de marechal- de-campo. Dirceu escalou a tribuna com a nova fantasia: era umNapoleão no inverno.Falou muito, nada explicou.Nãose livrou de nenhuma das acusações que lhe rondam o pescoço. Assustado com clima hostil, achou melhor – outra vez, denovo, como sempre – cuidar da retirada. E fugiu da Comissão de Ética. Tentou camuflar a fuga com uma parada de 40 minutos na comissão de sindicância da Corregedoria-Geral daCâmara, mobilizada para investigar sabe-se lá o quê. Ali, respondeu a 30 perguntas. Somadas perguntas e respostas, cada questão consumiu um minuto e trinta. Não é muito tempo. Talvez tenha permitido à comissão conhecer o estado civil do depoente, o atual endereço, possíveis alergias, lugar de nascimento e outras irrelevâncias. O guerreiro em retirada pode adiar a pior estação do calvário, mas dela não escapará. Logo veremos a performance de Dirceu na CPI. Ali o aguardam inquisidores cada vez mais ansiosos |
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