Arrogante e agressivo como nos melhores dias pré-Waldomiro, responsabilizou pela crise política a direita reacionária, os conservadores da satânica dobradinha PSDB-PFL e a grande imprensa. "Essa gente quer derrubar o governo socialista e popular do presidente Lula", declamou. Como neutralizar a terrível aliança? "Vou percorrer o país para mobilizar os militantes do PT, os movimentos sociais e as entidades sindicais", avisou no sábado. E partiu para a missão no dia seguinte.
A primeira escala, na reunião do diretório nacional do partido, mostrou-lhe que a tarefa será complicada. Em parceria com José Genoino, teve de improvisar atalhos que levassem para fora da pauta a votação da proposta de expulsão de Delúbio Soares, o tesoureiro do PT envolvido no escândalo do "mensalão", e o secretário-geral Sílvio Pereira, acusado de suprir um bilionário caixa 2 com a barganha de cargos e contratos federais.
O Dirceu do Planalto não teria controlado o temperamento autoritário ao ouvir o que disseram os militantes esquerdistas favoráveis ao afastamento dos suspeitos. O Dirceu na planície parece inscrito num cursinho intensivo de tolerância para mandões vocacionais. Não reagiu aos berros mesmo quando teve os tímpanos agredidos pelo discurso de Sílvio Pereira.
Por que afastar só dois dirigentes se também José Dirceu e José Genoino haviam sofrido acusações semelhantes, formuladas pelo mesmo Roberto Jefferson?, quis saber Sílvio. E foi à luta: não tomou nenhuma atitude, não praticou nenhum gesto, não adotou nenhuma medida sem a expressa aprovação do governo. Por isso, avisou, não admitiria cair sozinho. A ameaça é especialmente perturbadora. No dicionário pessoal de Sílvio, "governo" é (ou foi até a semana passada) sinônimo de "Dirceu". Portanto, se algo fizera de errado, errara com o consentimento do ex-ministro.
Há dias, o ainda chefe da Casa Civil afirmou que, abstraídas as miudezas de rotina, jamais tomou qualquer providência sem a autorização do presidente da República. Portanto, se eventualmente aprovou alguma irregularidade, agiu com o endosso de Lula. Essas ligações perigosas foram varridas para baixo do tapete petista com a permanência de Sílvio e Delúbio na direção do partido. Mas a CPI haverá de retomá-las.
O PT, repetiu José Genuino, não pode levar em conta denúncias formuladas por um homem com o prontuário de Roberto Jefferson, que só atendem aos interessados em desestabilizar o governo. Como tanto Dirceu quanto Genoino logo serão interpelados pelos integrantes da CPI, convém que encontrem, o quanto antes, argumentos menos bisonhos. A teoria conspiratória não resiste à sinopse do primeiro capítulo. Divulgado o videobandido em que um diretor dos Correios embolsa propinas enquanto diz que Jefferson chefia um bando de larápios, o presidente do PTB sentiu-se abandonado pelos parceiros do PT e foi à luta. Contou o que sabia. (Ou parte do que sabe.)
É tarde para desqualificar o acusador. Primeiro, porque o prontuário de Jefferson só era desconhecido pelos que Nelson Rodrigues batizou de cretinos fundamentais. Segundo, porque muitos bandos, bem mais organizados, perigosos e vorazes, foram desbaratados porque algum delinqüente resolveu abrir o bico. O bandido italiano Tommaso Buscetta, por exemplo, foi convencido pela Justiça a revelar segredos da máfia nos EUA e na Itália. Confirmada a veracidade das informações, a máfia sofreu estragos tremendos. Buscetta continua preso.
Que tudo seja investigado sem medo, sejam quais forem os envolvidos, seja qual for o governo em que o crime foi cometido. O Brasil decente enfim se dispõe a enfrentar a corrupção federal. Não tem tempo a perder com a conversa fiada dos suspeitos.
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