VALDO CRUZ:Canibalização

 BRASÍLIA - Está cada dia mais evidente que o escândalo dos Correios não é apenas uma batalha empresarial -daquelas em que um grupo é alijado do esquema, arma uma arapuca e denuncia a roubalheira da qual gostaria de fazer parte.
A negociata da vez veio a público por causa de uma disputa de facções políticas da base aliada. De um lado, gente do PTB. Do outro, do PMDB.
Até o momento, seria ultrapassar o sinal dizer que os dois partidos estão envolvidos institucionalmente no caso. Uma investigação séria da Polícia Federal e de uma CPI poderá elucidar o grau de envolvimento.
Mas, por enquanto, é possível dizer que afilhados do PTB e do PMDB, seguindo ordens superiores, travavam uma disputa pelos negócios dos Correios. Cada um tinha seus "empresários" de confiança e trabalhava para que seus grupos "vencessem" as concorrências da estatal.
Um grupo avançou sobre o espaço do outro e, pronto, estava produzido mais um escândalo da era petista. Um exemplo de canibalismo: governista engolindo governista. E tudo estimulado pelo próprio governo Lula. Afinal, ao acomodar dois partidos com vasta tradição fisiológica na mesma estatal, os petistas não poderiam colher outra coisa a não ser uma baita confusão.
Sem falar que um terceiro partido, o PT, também alojou os seus simpatizantes nos Correios. Nos bastidores, petebistas e peemedebistas acusam os petistas de avançar sobre suas áreas, roubando-lhes negócios.
Negócios, é bom dizer, realizados não para gerar lucros ao Tesouro Nacional, dono dos Correios, mas para proporcionar dividendos eleitorais -desde doações eleitorais legais até mesadas para políticos.
Talvez seja esse o maior receio do Planalto com uma CPI dos Correios. Descobrir -ou mesmo revelar- que gente sua estava participando da festa canibalesca do momento.
folha de s.paulo