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"Todo empresário sabe que [a desvalorização do dólar] é um problema da política americana", afirma o presidente em discurso para metalúrgicos; depois, na Fiesp, conclama empresários a parar de chorar | |||
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira, que a desvalorização do dólar no Brasil é resultado da política econômica dos Estados Unidos. Não caberia a ele, portanto, resolver esse problema, do qual os exportadores brasileiros tanto se queixam. "A gente deveria fazer uma comitiva para ir se queixar do câmbio onde efetivamente está a razão da desvalorização do dólar, que não é no Brasil. Todo empresário sabe que o câmbio tem um problema com a política americana, e não é um problema para que nós resolvamos do jeito que alguns imaginam. A gente deveria fazer uma comitiva para ir se queixar do câmbio onde efetivamente está a razão para a desvalorização do dólar, que não é no Brasil", disse. O presidente, que discursou na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), na solenidade em comemoração da fabricação do carro de número 15 milhões da montadora no país, afirmou ainda que, apesar da depreciação da moeda norte-americana, as vendas externas brasileiras vão bem, e os dados positivos da balança comercial são resultado do trabalho de empresários e políticos que "aprenderam a vender tudo de bom que o Brasil tem". As palavras do presidente também contemplaram os críticas dos juros altos. A eles sugeriu que formem cooperativas de crédito. Para ele, essa é uma forma de fazer os bancos baixar os juros dos empréstimos. Lula se declarou de tal forma entusiasmo com o modelo de cooperativas que, para dar exemplo, filiou-se, juntamente com a primeira-dama, Marisa Letícia, à Cooperativa de Crédito dos Metaúrgicos do ABC (CredABC). Ele disse esperar que sua atitude estimule as pessoas a fazer o mesmo. "Sou amante das cooperativas, e o meu sonho é que o Brasil tenha a predominância de várias cooperativas", disse. Segundo uma nota da CUT datada de 29 de março, a "CredABC tem 561 sócios e já fez mais de 350 empréstimos, com valor médio de R$ 1,3 mil cada". Mais discurso Segundo ele, o governo trata com tal seriedade a política econômica que adotou que não hesitou em elevar os juros às vésperas da eleição do ano passado, mesmo correndo o risco de perder a disputa em cidades importantes. "Vocês estão lembrados que faltavam 15 dias para a eleição da Prefeitura de São Paulo e nós aumentamos os juros, coisa que não é habitual fazer no Brasil. No Brasil, normalmente as pessoas esticam a corda até passar as eleições. Passaram as eleições, solta a corda, e fica quem quiser com o prejuízo. Por experiência, eu sei que arrebenta do lado mais fraco", afirmou. De acordo com Lula, se o atual patamar do câmbio permite que os produtos chineses invadam o Brasil, "ao invés de ficarmos chorando, temos que nos preparar" e "é preciso que a gente pare de se achar coitadinho". A solução, na sua opinião, é procurar novos mercados, como tem feito sua gestão. Agora, segundo ele, "o Brasil tem um leque de opções para fazer comércio exterior sem precisar ficar dependendo apenas das duas economias já consolidadas", os Estados Unidos e a União Européia, grandes parceiros aos quais o Brasil precisaria se "dedicar um pouco mais". Sem mencionar o caso, mas numa referência clara à sua declaração de que o Brasil havia tirado a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) da pauta, disse que o que seu governo fez foi tirar a "carga ideológica muito forte que estava na questão da Alca", o que implicou romper com o parâmetro segundo o qual ser favorável ao bloco era ser subserviente aos EUA. "Não concordar com a Alca tal como ela estava, a partir dos próprios documentos da Federação das Indústrias de São Paulo, era ser xiita, radical e antiimperialista", discursou. Para mudar isso, Lula disse foi preciso "correr o mundo e fazer com que as opções do Brasil se alargassem", aumentando o comércio com a África, com o Oriente Médio e com a América do Sul e apostando que esse mercado pode crescer ainda mais. Para isso, é preciso ter em mente, disse o presidente, "que o mundo é maior do que as relações costumeiras que estávamos habituados a fazer e que mercados como os Estados Unidos e a União Européia, que são extremamente importantes, também têm uma certa limitação, na medida em que eles, pela sua forte economia, são as relações preferenciais de todos". Segundo ele, a EU é a "noiva que todo mundo quer ter", e os EUA, "o noivo que todo mundo quer ter", mas "nem todos conseguem chegar perto com a força que deveriam chegar". Lula disse que "os americanos são duros na queda" e que ele não quer afrontá-los, mas sim encontrar um novo modelo de relacionamento. "Nós não queremos afrontar os americanos não, não sou louco! O que nós queremos é tratá-los como eles nos tratam, é dizer a eles que nós queremos os mesmos direitos que eles querem. E, na lógica comercial, é a única chance de nós levarmos, pelo menos, o jogo para o empate e não perder de goleada, como sempre perdemos." Para o presidente, responsabilidade e negociação valem mais que o confronto no tratamento dos problemas. Ele lembrou o tempo em que era a favor do rompimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e comparou com o atual, em que o país dispensou um novo acordo com a instituição. "Eu, que passei parte da minha vida gritando 'fora FMI', não sei se aqui alguém gritou; eu gritei muito. De repente, eu sou presidente da República e nós saímos do FMI pela porta da frente, sem um único grito, apenas dizendo: olha, construímos a base necessária para que a gente possa sair, não precisamos mais. Se um dia precisarmos, voltaremos de cabeça erguida, porque somos cotistas do FMI. Não precisei fazer nenhum discurso ideológico. Pelo contrário, até pedi voto para o atual presidente do FMI, veja que evolução", afirmou. Reação O presidente da Federação Fiesp, Paulo Skaf, respondeu ao presidente Lula. Disse que os empresários não choram e trabalham duro, mas que não é fácil ser empresário no Brasil por causa da taxa de juros, da falta de crédito, do excesso de burocracia e da altíssima carga tributária.
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